Já há pelo menos um acordo entre os integrantes da chamada “terceira via”: é preciso unir forças para atingir o objetivo maior, que é tirar o presidente Bolsonaro do segundo turno para enfrentar Lula. Há quem, como o deputado Rodrigo Maia, hoje Secretário no governo Doria, ache que o nome está errado. Teria que ser algo como “via da esperança”, como gosta Doria. Está acertado entre os pré-candidatos do PSDB, governador João Doria, e do MDB, senadora Simone Tebet, e mais a direção do União Brasil que em junho se sentarão para avaliar quem está melhor nas pesquisas de opinião, e quem tem melhores condições de competir contra os dois favoritos.
A pesquisa que será usada como base é a da Datafolha de junho. A definição de quem tem mais capacidade de agregar apoios, e de enfrentar Lula em debates, deve sair de embates internos. Doria diz que “sonha” em enfrentar Lula em um debate, mas acredita que ele e Bolsonaro, podendo, fugirão do enfrentamento. A dissidência do governador Eduardo Leite no próprio PSDB dificulta a situação de Doria, e é um obstáculo a ser ultrapassado. Cada um deles - Doria e Tebet - acha que até lá o outro terá se convencido de que o melhor a fazer é ser vice. Dos três partidos envolvidos nessa operação política, o União Brasil parece ser o mais fácil de fazer acordo, pois tem mais interesses regionais do que um nome nacional para ser lançado candidato. O presidente do partido nascido da união entre PSL e DEM, Luciano Bivar, já foi candidato à presidência da República, e nunca competitivo. As duas outras figuras nacionais que poderiam fazer parte desse grupo, o pedetista Ciro Gomes e o ex-juiz Sérgio Moro, do Podemos, não parecem estar nos planos futuros do grupo, embora sejam os que mais pontuam, próximos da casa dos dois dígitos. Ciro, por ter planos pessoais próprios e agregar menos na campanha, não apenas pelo temperamento como pelo caminho estreito que tem à frente: disputa o eleitorado de esquerda com Lula e não entra no de direita. Já Moro tem dificuldades de apoios partidários, e até mesmo no Podemos encontra barreiras, mais por suas qualidades no combate à corrupção na Operação Lava Jato.
A avaliação (ou torcida, em certos casos) é de que ele talvez nem mesmo dispute a presidência da República, pois terá que garantir foro privilegiado para se proteger contra a vingança de seus adversários no caso mais provável de que perca a eleição. Por questões regionais, Moro teria que concorrer à Câmara como deputado federal, pois a vaga do Senado pelo Paraná está guardada pelo Podemos para o atual senador Álvaro Dias, favorito para a reeleição. Como sua mulher Rosangêla já anunciou que concorrerá também à Câmara dos Deputados, o mais provável nesse caso é que Sérgio Moro concorresse a deputado federal em outro Estado, possivelmente São Paulo.
Esse, é claro, é o cenário ideal para os concorrentes de Moro nessa “via da esperança” que ainda não deslanchou. Os cerca de 8% que tem nas pesquisas não iriam para Lula nem Bolsonaro. A senadora Simone Tebet acha que até junho Doria se convencerá de que não tem condições de liderar a chapa, abrindo caminho para ela, que tem baixa rejeição por ser praticamente desconhecida do eleitorado, o que pode ser uma vantagem, que abre espaço para ampliar sua campanha, ou uma desvantagem, que a manterá na parte de baixo da tabela eleitoral.
Doria, por seu lado, acha que aumentará suas possibilidades assim que, deixando o Palácio Bandeirantes em abril, puder mostrar os avanços que conseguiu em setores fundamentais como a segurança pública, a educação e a cultura, além do crescimento da economia paulista, mais do triplo da brasileira, mesmo contando-se o período da pandemia. O governador está convencido de que sua imagem foi afetada pelas ações rigorosas que tomou para prevenir a pandemia, como fechamento do comércio, obrigatoriedade do uso de máscaras e fiscalização sanitária rigorosa. Mas não se arrepende.
Acredita que com a conclusão de inúmeras obras, neste último ano de governo, ele e seu candidato a governador, o vice Rodrigo Garcia, terão argumentos de sobra para ressaltar uma boa gestão pública. É difícil argumentar com Doria, pois tem um retrospecto vitorioso. Foi eleito Prefeito da capital no primeiro turno, tendo começado com 4% da preferência do eleitorado, e venceu para governador também virando o jogo durante a campanha eleitoral. Confrontado com o fato de que todos os candidatos tucanos saíram de São Paulo com vitórias avassaladoras, ele argumenta: “E perderam a eleição”.