Conjunto de princípios e técnicas de construção de espaços arquitetônicos que priorizam a redução do impacto ambiental e o bem-estar dos usuários, principalmente por meio do uso de materiais naturais (madeira, bambu, terra, adobe) e de sistemas sustentáveis (como a captação de água pluvial, o saneamento ecológico, a energia solar e a climatização natural).
“Utilização de materiais locais, que evitam a necessidade de transporte, e de fontes de energia renováveis. Adoção de sistemas de iluminação e ventilação naturais. Captação de água da chuva e reúso da água. Estas são algumas das orientações da chamada bioarquitetura, ou arquitetura viva, que, devagar, começa a marcar presença no Brasil. Sua ideia básica, concebida nos anos 1960, recomenda que o abrigo construído pelo ser humano seja encarado como parte do metabolismo do meio ambiente onde está inserido. Duas décadas mais tarde, o termo ‘bioarquitetura’ começou a ser empregado por arquitetos europeus e norte-americanos, preocupados em diminuir os efeitos negativos gerados pela indústria da construção civil, que ainda hoje é uma das maiores poluidoras do planeta. A escala do impacto promovido pelos assentamentos urbanos só tende a aumentar: segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), aproximadamente 85% da população mundial estará morando nas grandes cidades até 2027. O que ganha contornos alarmantes, considerando-se o atual déficit habitacional, de onde se originam as submoradias e seus consequentes reflexos sociais e ambientais.”1
“Uma fonte de inspiração para a bioarquitetura têm sido os sistemas tradicionais de construção, únicos existentes até o advento da era industrial, que resgatam o valor dos trabalhos manuais e dos materiais naturais renováveis e não poluentes. Pesquisas têm apontado novas formas de utilizar cimento e alumínio, que são agressivos ao meio ambiente, diminuindo a quantidade empregada em um canteiro de obra. Bambu, palha e madeira reflorestada ou proveniente de manejo certificado são escolhas preferenciais. Além disso, a tecnologia para tratamento natural dos efluentes domésticos impede que o esgoto chegue in natura aos rios e aos lençóis freáticos. Medidas simples sempre podem ser implantadas. Em relação à água, escolhendo torneiras com temporizador, chuveiros com redutor de volume e instalando um sistema de armazenamento de água da chuva para utilização nas áreas externas dos prédios. Quanto à energia, adaptando áreas de exposição para captação de energia solar, a fim de iluminar áreas comuns. Para o lixo, disponibilizando infraestrutura de seleção e reciclagem e para a transformação do material orgânico em compostagem e adubo. E até pintando telhados e lajes de branco, o que ajuda a reduzir a temperatura interna, porque faz refletir até 90% dos raios solares.”2
“Nascido em 1960, o conceito de bioarquitetura consiste em escolhas de componentes ecológicos para a construção das casas. Materiais como terra, pedra, areia, argila, fibras naturais (palhas, sisais, juncos) e cimento queimado são os mais comuns nesse tipo de arquitetura. Esses elementos encontrados na natureza substituem, por exemplo, outro material de construção como cimento, tijolos e vigas de concreto que precisam ser transportados por caminhões até o local e, consequentemente, emitem grandes quantidades de CO2 na atmosfera. A bioarquitetura também dá preferência para a mão de obra e produtos locais, pois essa é uma forma de incentivar a economia regional, ou seja, é parte dos elementos chave da sustentabilidade, promovendo a redução de impacto ambiental, valorização dos hábitos e práticas de uma sociedade.”3
“Autor do best-seller Manual do Arquiteto Descalço, síntese dos anos em que atuou como consultor para melhoria de moradias populares em várias agências governamentais, inclusive na Organização das Nações Unidas (ONU), o holandês [Johan van Lengen] diz que a bioarquitetura avançou bastante, mas as possibilidades são muito maiores. Segundo ele, um edifício pode ter captação de chuva e aquecimento solar, mas também filtros biológicos de tratamento de efluentes, teto verde, hortas, aproveitamento dos ventos, etc. É primordial raciocinar num prazo mais longo, para além da economia de água e luz. Johan é fundador do Centro de Estudos Tibá, que difunde bioarquitetura, permacultura e sistemas de produção agroflorestais. Localizado na serra fluminense, o local recebe estudantes e profissionais de todo o Brasil para cursos e estágios. ‘Hoje, a arquitetura ostenta várias expressões: modernismo, pós-modernismo etc. mas, no fundo, é tudo igual, sem identidade. Antes, a cultura era importante e as obras na China eram diferentes das na Indonésia, Europa, América Latina… Acho necessário recuperar a identidade de cada povo, e a bioarquitetura tem ajudado nessa tarefa’, avalia.”4
“É aconselhável dar preferência para materiais produzidos localmente com esta técnica. Assim, a economia local é estimulada e o gasto de energia e emissão de gases poluentes derivados do transporte dos materiais são reduzidos, além de representar uma economia de custos na obra. Uma etapa crucial é analisar os elementos climáticos da região, a fim de se obter uma climatização natural na edificação. Ou seja, é preciso saber os locais e horários de maior incidência do sol e as direções mais frequentes dos ventos. Assim, é possível adotar soluções, como a ventilação natural cruzada, que diminuam o gasto energético com climatização e melhorem o desempenho termoacústico das edificações. Outra característica da bioarquitetura é buscar construir preservando os elementos naturais existentes no terreno. É comum utilizar a flora da região para criar telhados verdes e jardins verticais na edificação. Se há, por exemplo, uma árvore no local onde a obra será realizada, o ideal é incorporá-la na construção, assim a edificação fica com uma aparência mais natural e agride o menos possível a natureza local. Isso também é uma forma de contribuir com a temperatura do ambiente, o que futuramente ocasionará a economia do uso de climatizadores.”5
1 MACHADO, Sandra. SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DA PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. O futuro é a bioarquitetura. MultiRio – Empresa Municipal de Multimeios, 23 jan. 2017. Disponível em: http://www.multirio.rj.gov.br/index.php/leia/reportagens-artigos/reporta.... Acesso em: 3 mar. 2022.
2 Idem, ibidem.
3 REDAÇÃO PENSAMENTO VERDE. Você sabe o que é bioarquitetura? Pensamento Verde, 7 mar. 2014. Arquitetura e Decoração. Disponível em: https://www.pensamentoverde.com.br/arquitetura-verde/voce-sabe-o-que-e-b.... Acesso em: 3 mar. 2022.
4 CAPELLO, Giuliana. Conheça 3 arquitetos engajados na bioarquitetura. Arquitetura e Construção, 30 dez. 2016. Sustentabilidade. Disponível em: https://arquiteturaeconstrucao.abril.com.br/sustentabilidade/conheca-3-a.... Acesso em: 3 mar. 2022.
5 MOBUSS CONSTRUÇÃO. Você já ouviu falar da Bioarquitetura? Mobuss Construção, 16 jan. 2020. Blog. Disponível em: https://www.mobussconstrucao.com.br/blog/bioarquitetura/. Acesso em: 3 mar. 2022.