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umami

Classe gramatical: 
s.m.
Definição: 

Gosto intenso e complexo de alimentos ricos em aminoácidos, como o glutamato, e nucleotídeos, considerado um dos cinco sabores básicos percebidos pelas papilas gustativas, ao lado do doce, do salgado, do azedo e do amargo. (O umami pode ser sentido em tomates, aspargos, queijo parmesão, cogumelos, carnes, certos frutos do mar, entre outros alimentos.)

[Também usado em aposição: ingredientes umami, gosto umami.]

[Do japonês umami ‘saboroso’.]

Exemplos de uso: 

“Fazia séculos que o mundo achava que eram só quatro os sabores que nossas papilas gustativas reconheciam (doce, salgado, azedo e amargo). Daí o professor e pesquisador japonês Kikunae Ikeda apresentou o umami para a comunidade científica em 1908 – isso, mil novecentos e oito, mais de 100 anos atrás. Mas seus colegas só validaram a existência do umami agora no século 21. Tadinho do Kikunae, morreu em 1936 sem ver o valor de sua descoberta reconhecido... A demora não foi à toa, porém. Eles precisavam identificar algo que cientificamente ligasse os alimentos umami, algo em comum entre eles. Chegaram aos receptores específicos para o aminoácido glutamato na língua humana. Caso você curta tecnicidades, fica o nome desses receptores: mGluR4.”1

“Apesar de genial em sua sagacidade, Kikunae não foi lá muito criativo para batizar sua descoberta – em japonês, umami quer dizer ‘saboroso’. A pedido de GALILEU, a professora Hellen Maluly, especialista em aplicação e segurança de aditivos alimentares, descreveu o umami. ‘É um gosto que às vezes se confunde com o doce, às vezes se confunde com o salgado, aumenta a salivação da boca e permanece no paladar por cinco a dez minutos depois que engolimos a comida’. Mas que comida? A lista de alimentos que naturalmente possuem o gosto umami conta com itens do dia a dia de todo brasileiro, como milho, ervilha, tomate, frango e outros um pouco menos corriqueiros, mas ainda assim longe de serem exóticos, como shimeji, shiitake e frutos do mar. Alimentos industrializados também podem conter o umami, como queijo parmesão, conservas vegetais, molhos de tomate e de salada, linguiça e presunto.”2

“O umami na verdade é bastante disponível, principalmente na culinária oriental: cogumelos frescos são uma fonte abundante, bem como algas secas, independentemente do tipo. Pastas fermentadas de peixe também são ricas nesse composto. Já na gastronomia ocidental, é mais fácil encontrá-lo na gastronomia mediterrânea: os tomates maduros possuem bastante umami na casca, e queijos de longa cura, como é o caso do parmesão, grana padano e pecorino, também são ricos neste sabor. Uma boa forma de explorá-lo é utilizando em molhos ou cozidos. Eu costumo utilizar nori triturada no liquidificador (faço um pó mesmo) e coloco uma colher de sobremesa no preparo, enquanto cozinha. Não é suficiente para conferir aquele sabor de mar e ao mesmo tempo cria uma explosão de umami. Pode-se também utilizar shiitakes secos ou a alga kombu, que é bastante rica em glutamato e não tem um paladar muito presente.”3

“– O umami pode ser usado para aumentar a palatabilidade, realçando o sabor sem aumentar a ingestão de sal (o sódio até hoje é usado para o mesmo fim). Outro aspecto que ainda necessita de mais pesquisas, mas que já vem sendo estudado, é a possibilidade de o umami contribuir para a sensação de saciedade – explica o neurocientista Ivan Araújo, professor da Universidade de Yale que falou esta semana, no Rio, sobre como o gosto age no cérebro no ‘I Simpósio Latino-americano sobre Umami’.”4

“Um novo estudo realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), publicado no International Journal of Food Science and Technology aponta que o gosto umami pode auxiliar na redução de sódio, sem trazer prejuízos ao sabor dos alimentos. Durante a análise, 103 participantes avaliaram seis amostras de duas receitas diferentes – arroz branco e carne moída – nas quais foram utilizadas diferentes concentrações de sódio, e uma delas com a adição do glutamato monossódico (MSG), principal substância que confere o gosto umami. A pesquisa apresentou a redução de sódio nas amostras preparadas com sal e MSG de pelo menos 30% no arroz e 33% na carne moída, dois tipos de refeições amplamente consumidas no Brasil, mantendo a mesma aceitação.”5

“Claro que tamanha descoberta não passaria batida pelos chefs mais renomados. É o caso de Heston Blumenthal, do restaurante The Fat Duck, na Inglaterra, com três estrelas no Guia Michelin. Para ele, o umami não é uma exclusividade oriental, pois está em diversos ingredientes que os ocidentais usam no dia a dia, como o tomate. No livro Umami: the fifth taste, lançado em 2014, o chef explica que prepara um ‘caldo umami para quem deseja sentir o quinto sabor. Leva alga kombu, molho de soja, cogumelo shiitake seco, peixe cavalinha e tomate. Da geração de chefs ligados tanto à cozinha quanto ao laboratório, ele participa de pesquisas sobre gosto realizadas na Universidade de Reading. Em artigo publicado no jornal The Guardian, em 2002, Blumenthal afirma que o caldo dashi é usado no Japão para adicionar complexidade às preparações – enquanto essa função é cumprida por gorduras, como manteiga e creme, no Ocidente. O caldo dashi leva algas secas e raspas de peixe curado. Cogumelo desidratado é um item opcional. Mais cheio de umami, impossível.”6

“[Michael] Pollan explica que o gosto é inato, mas que o sabor depende da experiência pessoal. Ele cita o exemplo do ‘tofu fedido’ que experimentou na China, considerado agradável naquela cultura, mas asqueroso em outras. O umami, curiosamente, é um gosto sem gosto identificável, cuja função é justamente destacar os outros gostos. ‘Um pouco como o sal, o glutamato parece destacar o gosto dos alimentos; porém, ao contrário do sal, ele não tem um gosto próprio reconhecível’, escreve Pollan. A despeito de ser algo intangível, o umami atualmente é dado como certo. ‘Hoje existe uma compreensão do umami no campo da neurociência e da fisiologia do sabor’, diz a professora Silvia Mendoza, da Universidade do Chile. E Pollan mata a charada sobre a importância do quinto gosto: ‘Será mera coincidência que tantas das coisas que consideramos comidas afetivas – do sorvete à canja – transitem entre o doce e o umami, os dois primeiros gostos que conhecemos ainda no peito da mãe?’”7

Referências: 

UMAMI. In: CAMBRIDGE UNIVERSITY PRESS. Cambridge Dictionary. Disponível em: https://dictionary.cambridge.org/pt/dicionario/ingles/umami. Acesso em: 8 dez. 2021.

UMAMI. In: DICTIONARY.COM. Disponível em: https://www.dictionary.com/browse/umami. Acesso em: 8 dez. 2021.

UMAMI. In: ISTITUTO TRECCANI. Vocabolario Treccani. Disponível em: https://www.treccani.it/enciclopedia/umami/. Acesso em: 8 dez. 2021.

1 DREHMER, Raquel. Umami: conheça e entenda o quinto gosto do nosso paladar. Claudia, 20 jan. 2020. Receitas. Disponível em: https://claudia.abril.com.br/cozinha/gastronomia/umami-conheca-e-entenda.... Acesso em: 8 dez. 2021.

2 BOURROUL, João Mello. Umami, o gosto que todos sentem e poucos sabem o nome. RevistaGalileu, 29 out. 2015. Ciência. Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2015/10/umami-o-gosto-q.... Acesso em: 8 dez. 2021.

3 ROCHADEL, André. Umami: afinal, o que é esse sabor que potencializa todos os outros? Metrópoles, 27 jul. 2020. Disponível em: https://www.metropoles.com/gastronomia/comer/umami-afinal-o-que-e-esse-s.... Acesso em: 8 dez. 2021.

4 NOGUEIRA, Viviane. O poder do umami, o quinto gosto fundamental. O Globo, 17 ago. 2013. Saúde. Disponível em: Acesso em: 11 dez. 2021.

5 BÚSSOLA. Estudo aponta que gosto umami pode reduzir sódio no preparo das refeições. Exame, 3 ago. 2021. Disponível em: https://exame.com/bussola/estudo-aponta-que-gosto-umami-pode-reduzir-sod.... Acesso em: 8 dez. 2021.

6 AMARAL, Renata do. Umami: o quinto gosto. Revista Continente, 1º nov. 2015. Disponível em: https://revistacontinente.com.br/edicoes/179/umami--o-quinto-gosto. Acesso em: 8 dez. 2021.

7 Idem, ibidem.

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