Aparentemente, vai ser menos complicado do que se supunha garantir a unidade dos tucanos após as prévias para escolher o candidato do partido à Presidência da República. O que parecia estar caminhando para um confronto aberto sobre as regras da disputa, com o governador paulista João Doria se insurgindo contra possíveis manobras que lhe tirem o favoritismo dentro do PSDB, acabou refluindo, pelo menos neste primeiro momento, para um debate civilizado em que o partido mostrou que ainda tem fôlego para discutir os grandes temas nacionais sem grande divisões.
Os três pré-candidatos - o próprio Doria, o governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite, e o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgilio - defenderam os pontos partidários básicos, como o equilíbrio fiscal e as privatizações, divergiram em pouca coisa, como quanto à reeleição, que também é uma marca do partido. Embora o próprio Fernando Henrique Cardoso já tenha admitido que foi um erro a implantação do sistema de reeleição.
Arthur Virgilio foi o mais ortodoxo dos tucanos, defendeu a reeleição naquele momento, em que era preciso consolidar o Plano Real, e também hoje, quando lembra que será preciso muito tempo para resgatar o país da crise em que vive desde o caos econômico implantado pelo governo Dilma, o último do PT. O governador do Rio Grande do Sul já anunciou que é contra a reeleição e considera que esse desapego facilita acordos políticos com outros partidos na hora de ter que montar um governo de coalizão. E pode ajudá-lo também nas negociações internas do próprio PSDB, pois não será empecilho a projetos de outros políticos do partido.
A seu favor tem a realidade de que abriu mão de se candidatar à reeleição ao governo do Rio Grande do Sul, que seria o passo mais natural na sua bem sucedida carreira política, de vereador a prefeito e governador do estado. Aliás, este parece ser o ponto nevrálgico de suas preocupações, a experiência administrativa e política. Basta que algum de seus oponentes sugira que é inexperiente para que Eduardo Leite se preocupe, tentando desfazer essa imagem.
No final, não houve mortos nem feridos, e o partido saiu fortalecido em suas linhas mestras. O que os dirigentes presentes consideram o maior ganho das prévias. Para Doria, que continua sendo o favorito, o primeiro debate não parece ter limitado sua ambição. Já Eduardo Leite segue perseguindo o governador de São Paulo com mais chances de ganhar hoje do que tinha quando começou a campanha. Ambos aproveitaram a oportunidade para fazerem mea-culpa do apoio que deram a Bolsonaro na eleição de 2018. Virgilio foi o mais cáustico a esse respeito, mas como Doria e Leite é que estão na disputa, esse não será um calcanhar de Aquiles para nenhum dos dois nas prévias. Pode ser, porém, na campanha presidencial.