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Bolsonaro piora sua situação

 

Depois do discurso de Bolsonaro na manifestação da avenida Paulista, o presidente da Câmara dos Deputados, Artur Lira, que até então estava tranquilo, pegou o avião de Maceió de volta para Brasília para se reunir com líderes partidários. Recebeu muitos telefonemas cobrando a prometida contenção do presidente. O chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, que junto com Lira fazia o trabalho de controlar Bolsonaro, também passou a se preocupar depois da manifestação de São Paulo. Os dois estavam seguros de que o presidente não faria maluquices em seus discursos; Artur Lira garantira na véspera que Bolsonaro havia concordado em não fazer qualquer coisa que agravasse a situação. Mas agora, a ideia do impeachment aumentou sua força dentro do Congresso, pois muitos partidos já começam a pensar nisso. Não é que Lira vá abrir imediatamente um processo de impeachment, mas ele já começa a colocar no seu radar a necessidade de tomar uma providência se as coisas continuarem como estão. O centrão também começa a botar na balança se vale a pena ficar ao lado do governo. O clima político piorou muito para Bolsonaro porque ele é incontrolável, não vai voltar atrás e ninguém confia mais nos acordos que ele propõe.

No STF, o ministro Luiz Fux, pela manhã, estava disposto a responder com moderação, mas à noite endureceu a resposta, que não poderá ser num tom tão duro quanto o do ex-ministro Celso de Mello, mas não será inócua. De concreto, será mais um episódio para entrar nos inquéritos nos quais o presidente Bolsonaro já está arrolado; o de fake News e o de promoção de atos antidemocráticos. A questão é saber como se comportará o procurador-geral da República, Augusto Aras, porque sem ele o STF não pode agir. Mesmo se fizer uma denúncia rigorosa, se o PGR engavetar, nada poderá ser feito. Nos últimos dias, Aras tem dado algumas pequenas demonstrações de que não será o mesmo do primeiro mandato. Há um entendimento dentro do mundo jurídico de que está se afastando aos poucos da imagem de submisso a Bolsonaro; já entendeu que não será indicado para o STF neste mandato e que tem uma biografia para defender. O presidente da República está levando a situação a um ponto que o centrão e o PGR entenderão que não é possível mais ficar com ele. E com isso, sua situação piora a cada dia.

O Globo, 08/09/2021