Criou-se uma tensão, por equívoco do governo, a respeito do documento que setores econômicos anunciam que irão divulgar. O texto que seria divulgado amanhã - e parece que já foi adiado, segundo Artur Lira, é anódino. Pede diálogo e iguala os três poderes como responsáveis pela crise institucional. Muita gente deixou de assiná-lo porque ele transforma o governo Bolsonaro - que é quem ataca as instituições - em parceiro da mesma qualidade democrática que Judiciário e Congresso. É engano do governo fazer essa onda toda por um documento tão tranquilo. A primeira versão era mais incisiva na crítica oculta da crise institucional e responsabilizava o Executivo, mas foi refeita por pressão do BB e Caixa Econômica Federal. O documento final é neutro, e o governo, que teve vitória na pressão para mudar o teor do primeiro documento, ou está interpretando errado, ou quer criar mais uma confusão. O documento, ao pedir diálogo, admite que Bolsonaro queira fazê-lo. O presidente já rompeu todas as promessas de conversas que foram tentadas, até do presidente do STF, ministro Luis Fux. Por isso, acredito que não há nenhuma razão para esse escândalo do governo. No caso dos prefeitos que também estão pedindo diálogo não há nenhuma anormalidade, pois eles precisam falar com o Executivo para tratar de suas vidas administrativas. Mas um documento que pretende representar a sociedade civil e os meios empresariais não tem que tomar posições tão neutras. Tenho até a sensação de que ele pode não ser divulgado. Pedido de diálogo só tem sentido, mesmo assim favorável ao governo, se for antes de sete de setembro, para evitar conflitos. Se houver alguma crise séria decorrente da ocasião, não terá sentido pedir diálogo. Temo que será uma batalha de Itararé, que não aconteceu.