neurodiverso adj. s.m. (pessoas neurodiversas)
Denominação dada à ampla variedade de padrões de funcionamento do cérebro, existente entre os indivíduos da população humana, vista sob uma perspectiva que reconhece as manifestações atípicas (relacionadas ao autismo e à dislexia, por exemplo) como naturais e normais, não como distúrbios patológicos.
“A abordagem da neurodiversidade argumenta que as diversas condições neurológicas são resultado de variações normais no genoma humano. O termo surgiu no final dos anos 1990, quando Judy Singer, socióloga australiana que também está no espectro do autismo, o usou para descrever condições como TDAH, autismo e dislexia. A esperança e objetivo de Singer eram desviar o foco do discurso sobre as formas de pensar e aprender da rotineira ladainha de ‘déficits’, ‘distúrbios’ e ‘deficiências’. Rapidamente, o termo foi adotado por ativistas na comunidade autista e, logo depois, chegou a outras comunidades. Seus defensores têm aplicado o conceito para combater o estigma e promover a inclusão nas escolas e no local de trabalho.”1
“Para crianças com diferenças de aprendizado e raciocínio, por exemplo, a ideia de neurodiversidade tem benefícios reais. Ela pode ajudar as crianças (e os pais) a enquadrar seus desafios como diferenças, e não como déficits. Além disso, pode lançar luz sobre abordagens instrucionais que podem ajudar a destacar os pontos fortes específicos das crianças.”2
“Apesar da experiência pessoal positiva no ambiente acadêmico, a estudante [Priscila] considera que falta inclusão nas aulas. ‘Alguns professores não entendem certas demandas simples de pessoas neurodiversas, ou características, como a dificuldade de olhar nos olhos durante as explicações’. Ela conta que já teve problemas por sua forma diferente de assistir às aulas. ‘O professor achou que eu não estava prestando atenção e eu tive que explicar que me concentro melhor desta forma.’ Giulia Jardim Martinovic foi diagnosticada aos 5 anos de idade e diz que a vida de um estudante autista no ensino superior não é fácil. ‘Quando entrei na faculdade, em 2019, senti falta de apoio específico e vi amigos autistas desistindo de se formar.’ Ela cursa a graduação em Letras na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e relata ter ouvido histórias de discriminação no ambiente universitário. ‘Um rapaz me contou uma experiência muito ruim, em que um professor disse que a universidade não era lugar para ele, que ele deveria procurar um curso técnico.’ (...) Foi pensando nessa importância de conscientizar a comunidade acadêmica sobre a neurodiversidade e necessidades de alunos autistas – além da criação de estruturas de apoio a essas necessidades – que Giulia resolveu fundar o Coletivo Autista da USP (CAUSP), do qual Priscila e Gabriel são membros. O maior objetivo da organização é ampliar a permanência estudantil de estudantes com o transtorno.”3
“Clinicamente, o autismo é definido como um transtorno do neurodesenvolvimento, caracterizado por dificuldades na interação social e na linguagem, associado a padrões de comportamento repetitivo, interesses restritos e respostas atípicas a estímulos sensoriais. Mas, a meu ver, com base no conceito de neurodiversidade e no fato de que cada indivíduo é único e especial, o autismo é, basicamente, apenas uma forma atípica do cérebro humano funcionar. Sendo assim, estar dentro do chamado Transtorno do Espectro Autista (TEA) NÃO condiciona, de forma automática e uniforme, todas essas pessoas aos mesmos padrões – mesmo que elas possam apresentar, sim, alguma maior dificuldade em termos de comportamento, linguagem, interação social e/ou maior sensibilidade sensorial. Até hoje, no entanto, muitas pessoas ainda têm uma imagem estereotipada do quadro.”4
“De acordo com Key Sargent, diretora do WorkPlace no escritório internacional HOK, as novas gerações estão cada vez mais cientes de seus diagnósticos e preparadas para requisitar espaços mais inclusivos. Ainda segundo Sargent, pesquisas recentes mostram que pessoas que tiveram o coronavírus são consideradas ‘long-haulers’ ou indivíduos que têm algum resquício distante do vírus, sendo uma parcela, neurológica. Além disso, os sintomas de depressão e ansiedade aumentaram 4 vezes em junho de 2020 em relação a 2019, aumentando a atenção sobre o assunto. Portanto, entender esses espectros e discutir soluções de design inclusivas são premissas básicas para se desenhar ambientes de trabalho pós-pandêmicos. Seguindo no espectro mais amplo do termo, estudos demográficos apresentam dados interessantes sobre a neurodiversidade humana e suas implicações no ambiente de trabalho. Somente 50% das pessoas sentem que seus escritórios lhes dão suporte, e preocupantes 78% apontam que gostariam de ter mais flexibilidade nas opções de trabalho, impulsionados pelo desejo de aumentar a produtividade e adquirir um balanço melhor entre vida e trabalho.”5
“Na verdade, algumas das nossas mentes mais brilhantes e célebres foram ‘conectadas’ por qualquer padrão, independentemente dos padrões. Thomas Edison tinha dislexia e também sofria de distúrbio de déficit de atenção. Albert Einstein mostrou algumas características do autismo. Pablo Picasso teve que lidar com a depressão. E Warren Buffett é conhecido por ser um ‘tubarão de negócios’ extraordinariamente introvertido. Muitas características que, de fora de portas, são percebidas como uma espécie de obstáculo à mente tornam-se, na verdade, muito amigas da criatividade. Mais uma razão, portanto, para apostar na neurodiversidade e dar forma a equipes compostas de pessoas dotadas de maneiras radicalmente diferentes de pensar.”6
NEURODIVERSITY. In: CAMBRIDGE UNIVERSITY PRESS. Cambridge Dictionary. Disponível em: https://dictionary.cambridge.org/pt/dicionario/ingles/neurodiversity Acesso em: 16 ago. 2021.
NEURODIVERSITY. In: DICTIONARY.COM. Disponível em: https://www.dictionary.com/browse/neurodiversity. Acesso em: 16 ago. 2021.
1 ISABELA. O que é neurodiversidade e a importância da inclusão. eCycle, s.d. Atitude. Disponível em: https://www.ecycle.com.br/neurodiversidade/. Acesso em: 16 ago. 2021.
2 Idem, ibidem.
3 MAZZEI, Amanda. Autistas chegam à universidade? Novo coletivo da USP quer conscientizar sobre neurodiversidade. Jornal da USP, 14 jul. 2021. Disponível em: https://jornal.usp.br/universidade/autistas-chegam-a-universidade-novo-coletivo-da-usp-quer-conscientizar-sobre-neurodiversidade/. Acesso em: 18 ago. 2021.
4 ORLANDI, Flora. Viva a neurodiversidade! Clínica Vita, 15 abr. 2021. Blog da Vita. Disponível em: https://vitaclinica.com.br/blog-da-vita/viva-a-neurodiversidade/. Acesso em: 18 ago. 2021.
5 ESTUDIO GUTO REQUENA. Neurodiversidade e biofilia: o futuro do espaço de trabalho na era pós-pandêmica. Archdaily, 17 jun. 2021. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/961852/neurodiversidade-e-biofilia-o-fut.... Acesso em: 18 ago. 2021.
6 MARKETING DIRECTO. Por que a neurodiversidade é o combustível da boa publicidade? Promoview, 6 jan. 2019. Disponível em: https://www.promoview.com.br/categoria/publicidade/por-que-a-neurodivers.... Acesso em: 18 ago. 2021.