É a palavra da Ciência. O neurocientista Miguel Nicolelis assim definiu a responsabilidade pela situação atual da pandemia no Brasil: “Se o país fosse uma empresa, os executivos seriam demitidos”. Ou até presos, pode-se acrescentar. A pneumologista Margareth Dalcolmo, que previu “o março mais triste de nossas vidas”, volta a dizer o mesmo em relação a abril. Também o Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde, da Universidade de Washington, registrou entre nós 66 mil óbitos ligados à Covid-19 em março e, em abril, calcula que serão 100 mil.
Ao mesmo tempo que Nicolelis fazia essas advertências, o ministro da Saúde dizia que “a ordem é evitar lockdown”. No pior momento da epidemia, Queiroga afirma que o país precisa fazer seu “dever de casa” e seguir recomendações de prevenção à Covid-19, como uso de máscaras e distanciamento, contanto que “deixe as medidas extremas para outro caso”. No domingo, a repórter Aline Ribeiro revelou no GLOBO que a situação precária dos hospitais está levando os profissionais de saúde, sem poder parar, ao limite da exaustão. Antes da pandemia, cada médico intensivista era responsável por dez pacientes em média. Agora, cada profissional cuida de 25 doentes.
São histórias de cortar o coração, como a do médico que dispõe de uma vaga para 200 candidatos e vai ficar o resto da vida com o sentimento de culpa de ter, para salvar uma vida, destinado 199 à morte. É irracional, evidentemente, mas que sentimento é racional?
O novo ministro da Saúde tem um discurso mais sofisticado, jamais revelaria publicamente, como o antecessor, que naquela pasta “um manda, e outro obedece”. Não precisa cometer essa indiscrição, está implícito quem determina se e quando serão adotadas as “medidas extremas”. Queiroga sabe do que o capitão gosta e do que não gosta — e ai de quem, no governo, ousa contrariá-lo. Pode preparar a frigideira.
Uma ironia do acaso simboliza a disposição da pandemia de avançar indiscriminadamente, sem encontrar resistência. Apenas um exemplo: ela invadiu até mesmo o palácio onde reina a negação à doença. O Planalto registrou 460 casos de coronavírus entre os servidores. A taxa de infecção em órgãos vinculados à Presidência é de 13%, mais que o dobro da média brasileira. Êta gripezinha danada, talquei?!
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Bolsonaro continua resistindo à vacina. Diz que será o último. Quando não tiver mais quem se vacinar, aí, sim, ele vai. Visivelmente, está com medo. Quero tranquilizá-lo: tomei duas doses e, pelo menos até agora, não desenvolvi nenhum traço de jacaré.