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Comandante do Exército está numa situação difícil

 

O vice-presidente general Mourão foi punido quando, comandante do Leste, se manifestou politicamente. Não é tradição do Exército aceitar indisciplinas com teor político. Já seria grave se Pazuello tivesse apenas passeado de motocicleta, mas subir em um palanque político não tem sentido para um general de ativa. A situação do comandante do Exército é muito difícil, porque é impossível não punir e colocar o ex-ministro da Saúde na reserva. Ao mesmo tempo, qualquer punição, ainda que branda, será também uma punição a Bolsonaro. O presidente, no entanto, tem o poder de revogar a punição e deixar o comandante desmoralizado, da mesma maneira que ficará caso aceite a versão de que a manifestação era apenas um passeio de motociclistas. A crise, que já está instalada, seria aumentada a níveis inimagináveis. Acho que não tem muita saída para o Comandante: é punir e esperar e, em caso de reviravolta, pedir demissão do cargo. Nunca houve caso igual na história do Brasil. O único presidente da República que condescendeu com a indisciplina foi João Goulart, que esteve numa reunião de sargentos amotinados, e foi derrubado. Bolsonaro está levando e Exército a uma situação limite: ou admite que tem que dar apoio político às suas ideias ou instala-se a crise.

O Globo, 28/05/2021