O presidente Bolsonaro, ao que tudo indica, conseguiu convencer os militares de que a política vive de aparências e de promessas vãs, que não precisam ser cumpridas. Seria uma espécie de prestidigitação para enganar o cidadão eleitor. Militar que saiu dos quartéis diretamente para a arena política defendendo seus companheiros em reivindicações salariais e corporativas que os fardados não podem fazer, Bolsonaro ficou quase 30 anos praticando a baixa política, que deu a ele e aos filhos uma vida confortável através de artifícios como a “rachadinha” dos salários dos funcionários dos seus gabinetes, e a manipulação de outras verbas de representação, fundos partidários e eleitorais.
Essa encenação revelada candidamente por Pazuello demonstra a que ponto Bolsonaro conseguiu condicionar os militares que o rodeiam e apoiam para assumirem situações de envergonhar uma pessoa de bem. É sabido que Bolsonaro, eleito por 57,7 milhões de votos no segundo turno, sempre disse a seus assessores que quem entende de política é ele, cortando-lhes qualquer possibilidade de argumentação contrária.
Essa crença foi fazendo com que os militares que o cercam fossem perdendo a condição de aconselha-lo, como parecia ser o papel que exerceriam no governo Bolsonaro. Mas, acreditar nessa expertise política a ponto de se submeter a situações vexaminosas, vai uma grande diferença.
O General Braga Neto, que já exerceu a chefia do Gabinete Civil, continua, na visão de muitos militares, fazendo política no ministério da Defesa, embora ele mesmo tenha garantido que as Forças Armadas jamais aceitariam politizar os quartéis. O General Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), ficou marcado durante a campanha eleitoral por uma declaração forte contra o Centrão, agrupamento político de centro-direita.
“Se gritar pega ladrão, não fica um, meu irmão”, sucesso dos “Originais do Samba”, onde pontuava o grande Mussun, cantou, surpreendentemente, o circunspecto general, para mostrar sua rejeição ao Centrão. Era o tempo em que a candidatura de Bolsonaro representava, vê-se agora que não no sentido de “simbolizar”, mas no de “encenar”, a tolerância zero com a corrupção, se contrapondo às gestões petistas marcadas pelos mensalões e petrolões da vida recente do país.
O que esperar de um austero General quando o presidente Bolsonaro se aproximou do Centrão, fechando uma parceria política no Congresso para se proteger de um impeachment? Ainda mais depois que o ex-ministro Sérgio Moro fora pressionado a sair do governo pelo empenho do presidente em “controlar” os órgãos de controle para proteger seus filhos de acusações de corrupção?
Deveria pedir o boné metafórico e ir para casa, não? Pois não apenas ficou no cargo como, dias atrás, deu uma explicação inacreditável: “Mudei de opinião. Vi que o Centrão faz parte do show político”. É uma confissão de capitulação, a mesma que o General da ativa Eduardo Pazuello fez ao afirmar que o que o presidente diz nas redes sociais, não se escreve. Serve apenas para distrair seus milhares de seguidores, base ativista de sua força política. Ou que a aliança com o Centrão, que antes via como um antro de ladrões, agora é aceita como parte necessária da luta político-partidária.
Longe vão os dias em que essa turma prometia chegar ao poder central para mudar essa prática. Mas eram apenas promessas para enganar os otários dos eleitores, coisas de internet.