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Dostoievski

 

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A narrativa em Dostoievski perde para o abismo do diálogo. A voz das criaturas é a raiz. Intensidade radical. Como Os demônios, extremada. 360º de partitura. Imagem especular. Fusão e simbiose. Para Baktin, a polifonia. Para Kantor, a fronteira.

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Na pane do sistema racional, o paradoxo é probatório. Também a teologia negativa e a reiterada floração do inatingível.

 

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Viacheslav Ivanov: “Como se víssemos a tragédia numa lente de aumento. Torna-se clara aquela lei do ritmo épico em Dostoievski, que corresponde à essência da tragédia, lei que gradualmente adiciona o peso dos eventos e transforma suas criações num sistema de músculos e nervos tensionados”.

 

Sou visitado por um rosto, ubíquo e transversal. Não mais que um rosto vazio e sem alma. A outra parte que de mim não sabe. Goliádkin!

 

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Berdiaev: “Um turbilhão da natureza humana apaixonada e ardente nos leva ao misterioso, ao profundamente enigmático e insondável ​​dessa natureza. Aqui Dostoievski revela a qualidade infinita e sem fundo da natureza humana. Muito embora nas profundezas, o rosto e a imagem do homem permanecem”.

 

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Raskolnikov e a transmutação dos valores. Além do bem e do mal. Vazio de sua terrível inquietação. Nietzsche reconheceu um irmão de sangue em Dostoievski.

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Zossima e a tradição do monte Atos. Camadas abissais. Esplendor metafísico. Como Ésquilo e Kirkegaard, quando diz: “é terrível cair nas mãos do Deus vivo”.

 

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Dostoievski, enquanto transição da modernidade equívoca e tardia.

 

Revista Humanitas, 31/03/2021