Após uma noite de sonhos inquietos, acordei transformado em um homem que, depois de muita espera, seria vacinado. Tomei rápido o café da manhã e saímos. Marcia, minha mulher, e eu pretendíamos ir para o Pacaembu, local mais próximo. Quem disse? Chegamos na Avenida Rebouças, já demos com o maior congestionamento, cujo início era o velho estádio. Observamos, a fila não avançou dez centímetros em meia hora.
Esperamos, a paralisação continuava. Nesse meio tempo, WhatsApps circulavam vindos de amigos, de filhos, amigos dos filhos, de redes solidárias. “Tentem o Anhembi, tentem a UBS da Casa Verde, tentem a UBS da Braz Leme.”
Fomos girando pela cidade e nada. Três horas e meia depois, depois, voltamos para casa. Terminado o almoço, outra informação. O “posto”, como se dizia há muito tempo, da Barra Funda, na Vitorino Carmilo, está praticamente vazio. Largamos tudo e voamos. Lembrei-me que aquele “posto”, antigamente, era onde nos vacinávamos contra febre amarela ou malária em função de viagens internacionais. Acreditam?
Chegamos e vimos, felizes, que a fila era curta, cobria duas quadras. Entramos. E nela ficamos. Ficamos. Ficamos. Então descobrimos que outra fila vinha de uma rua lateral e entrava por dentro da nossa. E era uma fila legal, tanto quanto a nossa. Belo planejamento... Não levam em conta a educação exemplar do brasileiro. No que abria uma brecha entrava um carro da fila lateral, e outro e outro, e outro, e dez, vinte, ninguém segurava, ninguém dava a vez. Alucinante. Perguntem se havia um guarda, um PM, ou seja lá o que for a orientar? Dois desta fila, dois daquela, dois desta, dois daquela, como é em países civilizados. Nenhuma “autoridade” presente. O governador ou prefeito esqueceram do detalhe da falta de amabilidade, da ausência de solidariedade do brasileiro?
Depois de um baita temporal, Rita, minha filha, decidiu ir até o “posto” e descobriu que estavam vacinando a pé, não era apenas drive thru. Não foi apenas Rita que descobriu, os espertos todos saíram a pé. Fila mínima, rapidez no cadastramento, na vacinação. Quando o pessoal da Saúde informava "é a vacina de Oxford", muita gente deixava a fila. Fiquei pasmo. Resultado do boquirroto que nos preside? Só faz estrago. Postei-me atrás de uma idosa amparada pelas filhas. Ia rápido. Então uma da filhas daquela senhora virou-se : “Mamãe foi bibliotecária em Pinheiros e disse que o senhor foi várias vezes dar palestras lá.” E eu: “Ah, é? E como ela me reconheceu se está de costas para mim.” Então dona Yara virou-se: “Pela voz, pela voz.”
Afinal, quem me fotografou e cedeu a imagem para Rita colocar no Instagram foi a filha de dona Yara. Sendo que ela é uma das orientadoras do meu neto Pedro, na escola Vera Cruz. Mundo pequeno ou coincidência?