Na marca superada de mais de 180 mil mortos na pandemia de Covid-19, no segundo país do mundo nesse ranking macabro, brasileiros vivem em tensão permanente, sem saber quando será a vacinação e com que calendário.
Enquanto o presidente Bolsonaro continua na sua negação da gravidade da situação sanitária, fazendo piadas com a maioria de tementes à doença, corre nas redes uma chocante seleção dos piores momentos do presidente durante a pandemia. O mês de março, no começo da crise entre nós, mas quando o mundo já se encontrava em situação crítica, foi quando Bolsonaro falou mais barbaridades.
No dia 20 de março, Bolsonaro disse que “depois da facada, não vai ser uma gripezinha que vai me derrubar não”. No dia 22, já tínhamos 34 mortes, e Bolsonaro garantiu que a previsão era que não chegaríamos a 800 mortes, o número de mortos pela gripe H1N1.
Com a mortalidade crescendo a cada dia, já tínhamos 46 mortes diárias, e Bolsonaro fez um pronunciamento afirmando que “devemos, sim, voltar à normalidade”, pregando o fim do isolamento. Em mais um pronunciamento oficial, no dia 26, com 77 mortes, Bolsonaro disse: “Pelo meu histórico de atleta, caso fosse contaminado pelo vírus, o máximo que me aconteceria seria ser acometido de uma gripezinha, ou um resfriadinho”.
Quando as mortes chegaram a 136, no dia 29, ele admitiu: “O vírus está aí, vamos ter que enfrentá-lo, mas enfrentar como homem, não como moleques”. Mais adiante, já em 20 de abril, e em disputa aberta com o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, respondeu assim aos repórteres que lhe perguntavam sobre o número de mortes, que já chegavam a mais de dois mil: “ Quem fala disso é coveiro. Eu não sou coveiro”
Com mais de cinco mil mortes, o presidente resignou-se: “E daí? Quer que eu faça o quê?”. Com o aumento do número de mortes, que chegavam àquela altura a 162.802, e infectados, Bolsonaro chamou a atenção da população: “Não podemos fugir da realidade. Temos que deixar de ser um país de maricas”.
Diante dos números assombrosos, no Brasil e no mundo, Bolsonaro teve a pe-tulância de dizer, poucos dias atrás, no dia 10: “Estamos vivendo o finalzinho de uma pandemia”. O mais recente vídeo revela o presidente fazendo uma piada homofóbica em relação aos que temem a Covid-19, caindo na gargalhada junto com outros parceiros. Até mesmo seu avatar Donald Trump, que durante muito tempo foi um negacionista sem máscara, agora está pressionando a Food and Drug Administration (FDA) para que libere o mais rápido possível o uso emergencial da vacina da Pfizer. A decisão saiu ontem, no fim de semana. Aqui, ao contrário, Bolsonaro pressiona a Anvisa para que retarde a vacinação, e não permita a CoronaVac produzida a partir de insumos da China no Instituto Butantan, em São Paulo.
Um misto de disputa política com seu potencial adversário em 2022 e idiossincrasia chinesa. A chanceler Angela Merkel apavorou-se quando o número de mortes na Alemanha chegou a 600 por dia e convocou o Parlamento para aprovar novas medidas restritivas, pois considerava esse número “inadmissível”. Aqui, onde já tivemos mais de mil mortes diárias, estamos novamente com números crescentes, aproximando-se das 800 mor- tes por dia novamente. E Bolsonaro vive repetindo que este é um fato da vida, “todos nós vamos morrer um dia”.
O presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia, está correto ao identificar a balbúrdia na preparação da vacinação nacional como o maior erro político de Bolsonaro até agora. O erro deu-se desde o início, quando o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, avisou a ele que, no ritmo em que estávamos, teríamos 180 mil mortes até o fim do ano, o que tragicamente foi confirmado esta semana. Muitos não estariam mortos hoje se tivéssemos uma política humanista e científica desde o início da pandemia.