De uns tempos para cá temos visto alguns profissionais de comunicação cometendo um engano gramatical com o uso dos numerais masculinos “milhar”, “milhão”, “bilhão”, “trilhão”, etc.
Quando esses numerais vêm seguidos de complemento com substantivo feminino, ouvimos frases equivocadas como a seguinte:
No Enem são corrigidas algumas milhares de redações.
Diante da presença do feminino “redações”, supõe o falante que o numeral masculino “milhares” obriga o emprego da forma feminina “algumas”, quando na verdade deveria ser: “alguns milhares de redações”. Este raciocínio está se generalizando em nossos dias. Assim, temos visto construções do tipo:
No cenário atual da pandemia, algumas milhares de pessoas não respeitam o uso obrigatório da máscara. (em lugar da forma correta: alguns milhares de pessoas)
As milhões de doses da vacina contra a covid-19 serão distribuídas por todo o país. (em vez da concordância adequada: os milhões de doses)
Enganos dessa natureza têm origem e empregos analógicos, como é o caso das expressões usadas pelo povo no jogo do bicho. Como ‘dezena’ e ‘centena’ são femininos é comum ouvirmos a palavra ‘milhar’ (substantivo masculino) usada no feminino em expressão do tipo: ‘acertei na milhar’. Trata-se de um raciocínio que contraria os princípios da norma padrão.
Ainda sobre numerais, atenção especial merecem entendimento e leitura de certas expressões abreviadas de uso moderno na linguagem jornalística e técnica:
1,4 milhão de pessoas (com 1 o numeral coletivo fica no singular, então leia-se: “um milhão e quatrocentas mil pessoas”),
2,3 bilhões de pessoas (leia-se: “dois bilhões e trezentos milhões de pessoas”)
2,5 bilhões de doses (“dois bilhões e quinhentos milhões de doses” ou “dois bilhões e meio de doses”).
Cabe lembrar aqui, neste pequeno comentário gramatical, a importância que têm essas pessoas públicas no cenário da comunicação, para o respeito à norma culta da língua portuguesa.