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Ode à Poesia

 

Não fosse a poesia, seria impossível respirar na quadra atual. Um tempo inimigo dos poetas. Não é pequena coisa rebelar-se. Imaginar o avesso do presente. E emprestar ao sonho cidadania. Um estatuto de emancipação. Caminho solidário. A poesia é núcleo de inquietação e liberdade. Comunhão de vida e pensamento, pedra e nuvem: o que podia ter sido e o que será. A poesia reclama o direito de sonhar. Traduz a forma de saber que estamos vivos, se já não desistimos do futuro. A poesia é máquina do tempo: de Homero ao poeta de 2080. A poesia é irmã gêmea do saber. E sonda o que não sabe. Generosa e ecumênica. Ignora as leis de mercado. Altiva e mercurial. Passam os bárbaros. Morrem os impérios. Mas a poesia não perde sua antiga juventude.

O Globo, 08/11/2020