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A reinvenção do Rio

 

A maldição Marcelo Crivella está aí para provar que o carioca se acha muito esperto, mas não sabe votar. Porém, como se aprende a votar votando, não perco eleição, até para síndico de prédio, talvez porque nem sempre deixaram minha geração ir às urnas. Agora vou, mesmo que a idade me faculte por lei ficar em casa, pois se trata de decidir os destinos da cidade. Uso então aquele lugar-comum de que não moramos na União nem no estado, mas no município.

Apesar de tudo isso, tinha dúvidas sobre eleição numa hora dessas. Desfiz depois que, no fim de semana, li, ouvi e vi o ministro Luís Roberto Barroso, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, lançando a campanha para prefeitos e vereadores. “Meu sentimento é de que há uma ânsia de participação no processo político.” Ele afirmava e dava como exemplo o convite feito para atrair mesários. O resultado? Mais de 700 mil voluntários inscritos. Sem falar nos 550 mil que se registraram como candidatos.

Outra demonstração de que as afirmações do ministro não ficavam apenas nas boas intenções foi a promessa de que “vamos combater as milícias do ódio e das fake news”. Mas como? Não passaria de uma bravata se não tivesse conseguido o compromisso das plataformas. O TSE formalizou parcerias com as principais mídias sociais — WhatsApp, Facebook, Instagram, Google — para a utilização de ferramentas que detectam comportamentos que incluem uso de robôs, de perfis falsos e impulsionamentos ilegais.

Barroso termina um de seus pronunciamentos referindo-se ao processo de “naturalização das coisas erradas”, que se manifestou de forma exacerbada no Rio, cidade a que ele declara abertamente sua paixão, mas que, admite, está precisando se reinventar. “Eu espero que essa reinvenção esteja próxima.”

A disposição do TSE, aliada às “50 propostas concretas para os candidatos à Prefeitura do Rio” — uma espécie de plataforma a partir de estudos de especialistas, empreendedores, artistas e executivos do Movimento Reage, Rio — fazem renascer a esperança de que o começo da “reinvenção” pode estar nesta eleição.

O Globo, 30/09/2020