Enfastiado de más notícias, saturado desse acúmulo de crises — política, econômica, ambiental, sanitária, ética —, resolvi me dar uma pausa assistindo com atraso à série “Sessão de terapia”, adaptação da original israelense, e convido você a fazer o mesmo. É um fenômeno. Lançada em 30 países, foi aqui onde deu mais certo, já estando na quarta temporada. O sucesso é atribuído ao fato de propiciar uma fuga a esses nossos tempos tão adversos e perversos. Estaria servindo como catarse, como purgação.
Selton Mello, responsável pela adaptação, pela direção e pelo bom êxito do espetáculo, acha modestamente que o mérito se deve à cultura do “voyeurismo”, citando o “BBB” de exemplo, como fez em entrevista a Pedro Bial. Admito, porém, que parte da resposta possa ser dada com a ajuda de Freud, que teria diante de si um prato cheio: pandemia, clausura, reclusão, isolamento, solidão, melancolia.
Mas como se explica que eu, um resistente à prática, tenha aderido tão facilmente à moda (meu único contato com a psicanálise foram três meses de cadeia durante o AI-5 com Hélio Pellegrino, o nosso então mais famoso mestre no assunto. Só que os papéis eram invertidos: ele falava, e eu escutava).
Meu fascínio pela série, na verdade, se deve à excepcional qualidade do projeto: das histórias, do roteiro, da direção e, sobretudo, das interpretações. Que atrizes! Que atores! Não são papéis decorados, são relatos de experiências realmente vividas por pacientes, não por artistas. A gente esquece até a identidade dos conhecidos. Quem é mesmo a Júlia? E a Nina? E a Ana? E o Breno? São pacientes do dr. Theo.
O cenário da série é um consultório simples, onde o analista atende seus pacientes desfilando parte do que todos sentimos ou vamos sentir um dia, mesmo não sabendo o nome: culpa, complexo, compulsão, distúrbio emocional, transferências entre pacientes e terapeutas e vice-versa.
Confesso que tive vontade de pagar uma consulta —a primeira de minha vida — para saber o que era aquilo que eu estava sentindo pela Morena Baccarin, nascida aqui, criada nos EUA e que hoje continuaria sendo desconhecida do nosso público como atriz brasileira se Selton não a tivesse trazido de volta.