No artigo anterior, sobre a criação de novas palavras, falamos em “infodemia”, termo utilizado pela OMS em janeiro deste ano para indicar a ‘propagação em massa de informações, muitas delas falsas, sobre a pandemia do coronavírus’.
Mais recentemente, a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) classificou essa avalanche de desinformação sobre a pandemia como “desinfodemia” e publicou dois informes, ou resumos de políticas, sobre o tema, em parceria com o ICFJ (International Center for Journalists): “Disinfodemic: Deciphering Covid-19 disinformation” e “Disinfodemic: Dissecting responses to Covid-19 disinformation (Dra. Julie Posetti e Prof.a Kalina Bontcheva, ONU-ICFJ).
No site da ONU, podemos ler: “Desinfodemia. Notícias falsas sobre coronavírus colocam vidas em risco, diz Unesco. Informações falsas e não confiáveis estão se espalhando por todo o mundo a tal ponto que agora alguns comentaristas estão se referindo à nova avalanche de informações errôneas que acompanhou a pandemia de Covid-19 como uma ‘desinfodemia’.” (nacoesunidas.org, 14/4/2020).
Talvez o processo de formação do termo “desinfodemia” tenha a mesma intensidade expressiva que encontramos em formações no nosso idioma quando contrastamos “desapartar” e “apartar”, “desinquieto” e “inquieto”, “desinfeliz” e “infeliz”, entre outros exemplos.
Vale aqui lembrar que o idioma, criação e expressão de seus utentes, trabalha e espelha também outros recursos afetivos comuns à dimensão da linguagem humana. A lógica não é o alicerce primário da linguagem, e os seus critérios não são suficientes para esclarecer e analisar as criações desse afetivo domínio idiomático. Um grande linguista já disse que a língua não é lógica nem ilógica, mas alógica, isto é, se rege por uma lógica particular.