Machado de Assis era “alegre, cheio de vivacidade, eternamente rapaz, sempre dizendo um bom dito a respeito de tudo, e rindo, rindo sempre”. A revelação foi feita por Artur Azevedo e corroborada Por Julia Lopes de Almeida que definiu o escritor como aquele “bom homem que eu nunca vira senão com um sorriso de simpatia e um modo afável e em cujas paginas li tanta coisa encantadora e inolvidável.” Quanto a Medeiros e Albuquerque refere-se a um “homem com o riso para dentro, compenetrado da dimensão trágica da existência, que confina com o recurso ao humorismo, já na década de 1880 destacado como singularidade da obra machadiana. E onde fica aquele Machado austero, sizudo, homem grave distante? É o que pergunta Helio de Seixas Guimarães no artigo “Uma Longa Vida Postuma”, que abre um livro precioso que cada um de nós acadêmicos da ABL deve ter, ler, discutir em reuniões que prevejo animadas, quando pudermos nos reencontrar. Estes volumes, intitulados Escritor por Escritor. Machado de Assis Segundo seus Pares são um pequeno tesouro organizados por Ieda Lebenszteyn e Seixas Guimarães, cobrem o período da 1908 a 1959 (Livro 1) e 1959 a 2008 (Livro 2). Edição primorosa da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo que me chegou enviada por Nourival Pantano Junior, diretor-presidente da Imesp. Espero que chegue a todos os acadêmicos, professores, cursos, mas principalmente a leitores comuns. Isto seria um feito notável em nossa cultura, hoje tão ameaçada. Lançamento corajoso. Pantana Junior adverte: “Neste momento em que vivemos situações tão inauditas quanto adversas, alguns conceitos e valores certamente ganharão nova dimensão e uso mais intenso e frequente, como solidariedade, cooperação. desprendimento, dedicação e profissionalismo.” Daí este objetivo de manter a linha de obras de referência que a caracterizam.
Volumes deliciosos sobre literatura, vida, costumes, preceitos e preconceitos da sociedade carioca – brasileira - vida literária, idiossincrasias. Não há aqui um Machado, porém muitos. Um homem, mil facetas, mil visões, mil lembranças. Doce é Julia Lopes de Almeida: “O primeiro escritor que pessoalmente conheci em minha vida, e a quem apertei a mão com o alvoroço de uma criança imaginosa, foi Machado de Assis; a primeira vez que dancei em uma salão de cerimônia foi com Machado e Assis. Eu era uma menina espigada e alegre, cujos vestidos mal tocavam o chão, ele andava pelos quarenta anos, acedendo em dançar, por gentileza, para com a dona de casa. Ao levantar-me da cadeira para dar-lhe o braço, eu tremia. Que iria eu dizer ao poeta de tão lindos versos? E se, além de não atinar com o que dissesse, ainda errasse na dança? Não errei, e ao influxo da sua simpatia, da maneira por que se fez simples para ser compreendido por mim achei que dizer e rimos muito.” Foi um momento iluminado na vida desta mulher que foi contista, romancista, teatróloga, jornalista. De momentos iluminados de mais de uma centena de escritores são estes dois volumes com 1.010 páginas, as quais ainda voltarei, neste momento que a ABL faz 123 anos.