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O lugar inóspito reservado aos violentos, aos que ergueram bandeiras de ódio

 

O aniversário da morte de Dante completa sete séculos ano que vem. Sua obra segue intacta e fascinante, movida por Deus e o Diabo, a luz e a sombra, o lume das estrelas e o rosto de Beatriz. A “Divina comédia” tornou-se um símbolo que inspirou séculos afora os maiores poetas do Ocidente. Foi tema da escola de samba Renascer de Jacarepaguá e da ocupação do MAM de Regina Miranda.
A tentação da viagem além-túmulo é apontar quem vai para onde, inclusive cada um de nós, admitindo-se um depois. Sem dar nomes, lembro dos que ficaram sempre em cima do muro, indignos de entrarem no Céu ou no Inferno. Lembro da metamorfose dos ladrões, dos semeadores de fake news, com os corpos dilacerados. O lugar inóspito reservado aos violentos, aos que ergueram bandeiras de ódio. O mal dos que praticaram a corrupção, ou quantos deixaram de exercer a justiça. Houve espaço para os charlatões, vendedores de unguentos, e também, de certo modo, aos genocidas. Não desprezem essa palavra. Mas não faltam beleza e altura do Jardim do Purgatório à Rosa do Paraíso. Para onde vamos, cada um de nós, e a República? Lembre-se, leitor, do ‘amor que move o sol e as demais estrelas’.

O Globo, 28/07/2020