Bolsonaro tentou esconder seu estado de saúde o quanto pôde. Na segunda-feira, no início da noite, ele disse a seus apoiadores: “Eu vim do hospital (das Forças Armadas) agora, e fiz uma chapa do pulmão, que tá limpo. Vou fazer um exame de Covid-19, mas tá tudo bem”. Não estava. Ele já apresentava sintomas, como cansaço, temperatura elevada e mal-estar.
À CNN ele contou que estava com 38º de febre e 96% de oxigenação do sangue. Aos mais íntimos, confessou brincando estar se sentindo “meio brocha”. Ele não disse, mas isso com certeza o preocupava mais do que se sentir com o vírus. A sério, mesmo sem ter o diagnóstico, ele começou a tomar por conta própria hidroxicloroquina e azitromicina, que não são recomendados.
Negacionista convicto, isto é, quem rejeita a realidade, é pouco provável, senão impossível, que ele se desfaça de algumas certezas arraigadas, como a de que há um exagero, sobretudo da imprensa, quanto à gravidade do coronavírus, como se ele fosse uma gripe qualquer e não uma pandemia. Às vésperas de completar 65 anos, ele falava do que era então uma hipótese remota: “Pelo meu histórico de atleta, caso fosse contaminado pelo vírus, não precisaria me preocupar, porque nada sentiria, seria, quando muito, acometido de uma gripezinha ou resfriadinho”.
Quando, ao que se diz, Bolsonaro vive uma fase de paz e amor, a sugestão é que ele incorpore uma reflexão sobre a gravidade do momento em que o país vive. E, sobretudo, que faça uma revisão dos erros e excessos que tem cometido em relação à pandemia, que ele pense nas pessoas que pode ter contaminado.
Só para ficar num exemplo recente. Já acometido pelo vírus, ele promoveu um fim de semana socialmente agitado. Na sexta, encontrou-se com nove executivos, entre os quais Luiz Carlos Trabuco, do Bradesco, e Rubens Ometto, da Cosan. No sábado, visitou a vice-governadora de Santa Catarina, Daniela Reinehr, e secretários. Também no sábado, em Brasília, o presidente almoçou com o embaixador americano, Todd Chapman, e os ministros Braga Netto, Ernesto Araújo e Luiz Eduardo Ramos. A foto dos alegres comensais sem máscaras, abraçados, dizendo com os polegares pra cima que estava tudo bem, suscitava a inevitável pergunta: “Tá rindo de quê?”