Com minha compulsão pela leitura, chega-me às mãos um pequeno livro sobre um tema incomum e de pouco interesse literário: a tradução. O livro é de duas professoras de São Paulo, Damiana Rosa de Oliveira e Andreia de Jesus Cintas Vazquez. São profissionais e devotas na arte de traduzir. O livro é constituído de dez pequenos capítulos, ricos de erudição, de lendas sobre a origem das línguas e da história dos primitivos tradutores.
Coincidentemente surge no Maranhão um livro sobre o tema que foge à abordagem histórica tradicional e envereda por uma pesquisa inédita e fascinante que nunca foi objeto de nossos estudiosos da cultura maranhense, que, para usarmos uma expressão popular, “comeram mosca”. É de autoria de um jovem e excelente pesquisador, Roberto Sousa Carvalho, que tem passado sua vida nos arquivos europeus e brasileiros em busca de curiosidades e temas inéditos. Ele revela que o Maranhão não somente produziu grandes escritores, mas também importantes e desconhecidos tradutores. Já tínhamos boa reputação nessa área pelas traduções de Odorico Mendes, com o desafio enorme que foi traduzir Homero (Ilíada e Odisseia) e Virgílio (Eneida, Geórgicas, Bucólicas, reunidas no volume Virgílio Brasileiro).
Roberto Carvalho descobriu e explorou com competência o tema. Seu livro Tradutores inusitados, editado pelo Instituto Geia, que tem uma coleção que ficará na história cultural do Maranhão como um dos mais valiosos marcos, porque não deixou cair no esquecimento notáveis obras clássicas e promoveu novos escritores. Roberto Carvalho tem enriquecido os estudos maranhenses com importantes análises e pesquisas do nosso passado.
Sebastião Moreira já destacou, em estudos que publicou, a importância do parque gráfico maranhense no século XIX, tendo à frente o J. M. C. de Frias e Belarmino de Matos, que se esmeravam na arte de imprimir com grande beleza e inovação.
Roberto Carvalho arrancou do esquecimento das raridades bibliográficas alguns exemplares que são raríssimos. Além de parque gráfico, o Maranhão era um dos grandes parques editoriais do Brasil. Basta dizer que a Tipografia de Frias publicou a segunda edição do Livro dos meninos, de Antônio Rego, em seis mil exemplares!, best-seller para aquela época em que São Luís tinha 25 mil habitantes. A parte teatral era muito ativa, como mostra a Biblioteca Dramática traduzida por Antônio Rego e Antônio Henriques Leal, coleção que publicou doze peças francesas, de autores então em voga, entre eles Eugène Sue e Alexandre Dumas. Para dizer o quanto estávamos atualizados, Os Miseráveis, de Vitor Hugo, foram publicados quase ao mesmo tempo em Paris e São Luís.
O livro erudito de Roberto Carvalho é agradável de ler e passa a ser essencial para todos que se interessam por nossa história literária.