Há pessoas que chegam tarde à vida da gente, mas chegam e ficam para sempre. Como é o caso de Edson Alves, que entrou no meu caminho há seis anos e me iluminou desde então. Nós nos conhecemos quando minha filha Rita Gullo montou um pequeno conjunto musical para nos acompanhar no show Solidão no Fundo da Agulha. O grupo acabou tendo um nome improvisado, que ficou Pai, Filha e Espírito Santo. Há 72 meses rodamos por este Brasil. Não ganhamos dinheiro, mas conhecemos gente e lugares e nos divertimos.
Sua morte, na semana passada, foi tão rápida, desnorteante, que, quando soubemos, ele já estava cremado. Um grupo enorme de amigos ainda conseguiu chegar ao crematório e se despedir com canções e casos. Porque Edson tinha um repertório enorme de histórias de músicos, sobre músicos, para músicos. Sua morte, aos 68 anos, frustrou a ideia que tínhamos os dois de contar em livro tudo o que ele viu e viveu.
Quantas histórias se foram com ele. Uma delas, me lembro, foi de quando tocava com Ray Conniff, que usava uma peruca perfeita, mas que um dia foi levada pelas águas do mar, o que deixou o mestre dos bailes desesperado. Por sorte, não havia plateia. E a infinidade de festas, bailes, coquetéis, debutantes, aniversários, quando os músicos só podiam (e ainda podem) entrar pelos fundos, acomodar-se em uma área de serviço e sem poder provar croquete, coxinha, empada, pastel, o que fosse. Se tivesse lagosta e caviar, nem podiam se aproximar, os garçons passavam ao largo. Histórias de como o trabalho de artistas funcionou ao longo de décadas. E o músico de renome que, convidado para tocar em uma festa, perguntou: “É de carnaval? Não trabalho em carnaval, de modo algum”. O contratante garantiu de pés juntos que não era e o músico notável foi, apertou a campainha e foi recebido na porta pelo Rei Momo. Virou as costas e se mandou.
Ele nos acompanhou de pequenos bares à inauguração de Sescs, fomos do sul ao norte, vilas e capitais. Mas houve um lugar que adorávamos, o restaurante Gênova, íntimo, com uma das melhores comidas italianas de São Paulo. Edson adorava quando João Gianesi promovia nosso show a propósito de nada e tudo. Ele morreu sem levar o filho outra vez para comer o espaguete limone, imbatível.
Vamos sentir falta de Edson e de suas reclamações (o box do chuveiro do hotel sempre entupia, justo com ele), de sua simplicidade, do cafezinho que tomava antes de cada show. Ele adorava dar aulas para jovens carentes que formavam uma orquestra no Auditório Ibirapuera. Ficou triste quando foi tirado de lá, assim como todos os que o conheceram estão desolados com a sua partida para sempre.