Durante anos, Eduardo Suplicy defendeu um programa de renda mínima —coisa de sonhador. De repente, ninguém menos do que Trump distribui cheques que garantam renda mínima aos contribuintes americanos. E toma providências para que isso se faça logo. Sintoma claro da guinada que a Covid-19 trouxe. Só comparável às fotos mostrando a diluição de nuvens de CO2 sobre cidades ou às imagens dos canais de Veneza com águas cristalinas, provando o bem que a quarentena faz ao meio ambiente.
Aqui, tivemos logo de saída um alerta nítido do Ministério da Saúde. O Congresso compreendeu a urgência e viu que era preciso agir logo. Aprovou o estado de calamidade pública, propôs um orçamento de guerra separado, conseguiu triplicar os tímidos 200 reais do socorro inicialmente aventado pelo Executivo — e adiado por variados pretextos burocráticos. O Judiciário deu nítido respaldo, os governadores atuaram de forma firme e coordenada, a mídia vem prestando inestimável serviço na informação segura e clara. As instituições seguram o país. A população entende.
De repente, veem-se o valor e a capilaridade do SUS e o absurdo de deixá-lo sem recursos, frente a gastos com estádios ocos e lobbies eficientes. Economistas defendem flexibilidade fiscal na urgência de medidas para os mais vulneráveis. A sociedade se mobiliza em ações solidárias. Valorizam-se serviços essenciais antes invisíveis. Pesquisadores varam noites em busca de soluções, empresários se mexem para financiar insumos, adaptar equipamentos. Sugerem-se fontes inesperadas de recursos:redução de salários do funcionalismo e de parlamentares, do fundo eleitoral, fim de isenção fiscal para igrejas, revisão de privilégios. No exterior, fala-se em Plano Marshall, em New Deal, discute-se o fim de paraísos fiscais. Carta conjunta de 165 líderes globais propõe medidas multilaterais imediatas.
Enquanto isso, cabra-cega ou barata tonta, movido a ódio e ignorância, o bufão zanza à toa e bate cabeça nas paredes do labirinto.