No domingo, o presidente parece que surtou. Foi para a rua cometer desatinos. Fez tudo o que a Organização Mundial da Saúde e o seu próprio governo exigiam não fazer. No passeio-comício que realizou por cidades-satélites de Brasília, promoveu aglomerações, desrespeitou a quarentena, não manteve distância entre as pessoas, teve contatos físicos até com crianças e não lavou as mãos nem usou álcool em gel. E disse coisas assim: “Devemos enfrentar o vírus como homem, porra, não como um moleque”. Diante disso, o Twitter, Facebook e Instagram retiraram os posts por violarem as regras das redes sociais.
Na segunda-feira, Bolsonaro deixou claro, porém, que tem método. Só pensa naquilo, na reeleição, e está pouco ligando para a divergência conceitual — se o isolamento deve ser horizontal ou vertical. O que irritava o seu ego era o protagonismo que o ministro Luiz Henrique Mandetta adquiriu com suas entrevistas diárias, que faziam muito sucesso, apesar de uma permanente preocupação de agradar ao chefe, que nem assim estava satisfeito. As informações de bastidores dão conta de que ele desabafou com amigos que estava de “saco cheio do Mandetta”. Mas como demitir o ministro acirraria a crise, a solução seria enquadrá-lo.
Isso foi feito com a mudança do local dos encontros e do formato. Passariam a ser realizados no Planalto e não mais distante, no ministério. Anteontem, Mandetta já apareceu cercado por outros três ministros. Braga Netto, o da Casa Civil, mediou o encontro, e coube a ele “deixar claro que não existe essa ideia de demissão de Mandetta. Isso aí esta fora de cogitação. No momento, não existe”. O ministro da Saúde deixou passar o “no momento”, mas disse: “Em política, quando fala ‘não existe’, a pessoa já fala ‘existe’.”
Resta saber se ele, que admira as favelas cariocas que frequentou quando era estudante de Medicina, aprendeu a cantar com o grande Zé Kéti: “Podem me prender, podem me bater, podem até deixar-me sem comer, que eu não mudo de opinião”.