Nunca pensei que um velhinho saudável e inofensivo pudesse ser considerado um risco à saúde pública só porque tem mais de 80 anos. E, pior, que devesse ser mantido afastado de todos, inclusive dos netos. Sei que vocês vão dizer que isso não é nada diante do que ocorre, por exemplo, na Itália, onde idosos estão sendo abandonados à própria sorte, isto é, à morte, pois não há como tratar de todos. A taxa de letalidade do novo coronavírus é a mais alta entre os “vulneráveis”, 14,8%, enquanto é de 8% entre os de 70/79 anos. Na China, 15% dos mais de 80 anos morreram.
Nem por isso subestimem a situação de um avô impedido de abraçar, beijar ou simplesmente de tocar seus netos, como é o meu caso. Quando a mãe e o pai tiveram a generosidade de vir morar aqui ao lado, no mesmo andar, porta com porta, era para que Alice e Eric permanecessem perto dos avós mais velhos (eles têm outros, mas novos). Além disso, sabiam que seríamos uma proteção a mais. Podiam sair à noite tranquilos para o cinema, porque as portas ficariam entreabertas, e Mary e eu estaríamos de olho.
Por outro lado, Alice, que hoje tem 10 anos, e Eric, 7, não demoraram a descobrir que o apartamento vizinho era o fascinante território da permissividade, onde podiam praticar os excessos que em casa não lhes permitiam, sobretudo em matéria de doces. É o mínimo que podemos oferecer em troca do prazer que recebemos. Aliás, costumo dizer que se soubesse que era tão bom ser avô teria pulado a etapa dos filhos.
Agora se discute se é mais perigoso deixar que as crianças frequentem a escola ou que permaneçam em casa aos cuidados dos avós. Depois de ouvir especialistas, a jornalista Ana Lucia Azevedo concluiu: “há risco em deixar criança com avós, mas é melhor que ir à escola”.
Enfim, por mais doloroso que seja para nós, que diariamente abraçávamos e beijávamos Alice e Eric, temos que nos contentar com beijos e abraços à distância. E não consideramos “histeria” as medidas contra a pandemia.
Histérico é ... deixa para lá. É bom não mexer com quem não regula bem.