Com a chegada da Covid-19, somos instados a ter juízo, manter distância social e responsabilidade cidadã, proteger a nós mesmos e aos outros. Buscar sensatez. Seria bom ter bons exemplos.
Ainda outro dia, tínhamos de escolher entre os amotinados da polícia, em ação definida como inconstitucional pelo STF, ou o tresloucado senador da retroescavadeira avançando contra eles. Sem falar na difamação e ataques chulos a mulheres jornalistas a reverberar por hostes parlamentares. E convocações do Executivo para se ir às ruas contra o STF e o Congresso. Além da maluquice à solta, temos o contagioso mau exemplo que vem de cima.
Se o presidente pode engrossar à vontade, na certeza de que tudo fica por isso mesmo, o que não fará o famoso guarda da esquina, que nem ao menos está o tempo todo sob o testemunho das câmeras para que se saiba o que faz de horrível? Se, em cada encontro com jornalistas ou eleitores munidos de celular, ele pode xingar a mãe a qualquer pretexto, dar banana ou apontar arminha gestual enquanto libera uso de armas reais pelo país afora, o que não fará o brutamontes anônimo com arma de verdade e força física, entre quatro paredes, contra a mulher que não quer mais aturar suas ameaças e violência? Se secretário da Cultura considerado “de verdade” pelo presidente podia ecoar discurso nazista em ultrajante vídeo oficial, e se governante estadual pode fazer lista de livros a serem recolhidos, o que não fará a diretora da escola ou o pastor no escurinho do anonimato?
Alguém se surpreenderá se amanhã aparecer um vídeo do presidente, palhaço a tiracolo ou em voo solo, botando a língua de fora ou baixando as calças e exibindo o traseiro para a nação, sob aplausos de sua claque? Tudo indica que há uma estratégia de provocação, para que todo mundo se acostume, siga o exemplo e ache natural alimentar a violência dessa forma, criando um ambiente antidemocrático e de barbárie.
Só que não é natural nem está certo. Passa do limite. Não acaba bem.