Natal é hora de cultivar afetos e reconectar com amigos — mesmo meio afastados ultimamente, num país com os nervos à flor da pele, a multiplicar mensagens azedas e atitudes irascíveis. Na área da cultura, então, a julgar pelas nomeações recentes e delirantes manifestações dos nomeados, tudo indica que há um projeto político de terra arrasada contra intelectuais e artistas de todo tipo.
Lembro então dois escritores que defenderam uma atitude na contramão dessa insanidade dominante este ano, sobretudo com alvo ambiental, educacional e cultural.
A primeira foi Fernanda Young, ganhadora de um Jabuti póstumo e que, na última crônica publicada, fez um apelo inusitado. Pedia gentileza, educação, delicadeza, convencida de que só o bom gosto pode salvar o país, entregue à vulgaridade das palavras, deselegância pública, ignorância por opção, mentira como tática, e atraso das ideias. Impossível resumir melhor.
O outro é Luiz Ruffato, sempre bom de briga e contundente nas denúncias, que surpreendeu o público na Feira Literária da Mantiqueira ao propor uma nova forma de combater a intolerância e o ódio: adotarmos seus opostos — a tolerância e o amor. Para ele, é a única forma de enfrentar a virulência do mal que nos assola. Para não ficar no vazio, sugeriu exemplos concretos: que os intelectuais se solidarizem sempre com os colegas atacados, a começar pelos que também foram atacados pelo nosso lado. Citou escritores desconvidados em Jaraguá do Sul, sob um “bem feito” de alguns colegas. Também poderia falar dos agredidos na Flica sob reação parecida.
Para Ruffato, Paz e Amor deve começar em casa e ir além das quatro paredes de cada igrejinha. Como resumiu Cacá Diegues: “se agirmos do mesmo modo que eles, como podemos afirmar a diferença entre eles e nós? Só na tolerância real podemos crescer no amor de nossa cultura e da democracia”.
Boa ideia para esta terra que teima em celebrar Herodes, o da matança dos inocentes — das balas perdidas aos pancadões.