Três anos antes de uma eleição, é difícil fazer-se uma prospecção sobre o que acontecerá, especialmente em um país como o Brasil, de passado incerto e imprevisível futuro. Mas a pesquisa FSB/Veja publicada esta semana traz interessantes registros que indicam, por exemplo, que a polarização entre Bolsonaro e Lula continua forte, como os dois desejam.
O presidente, que caía de popularidade a cada pesquisa, mantém-se firme no patamar de 33%, e tende a melhorar caso as boas perspectivas da economia se confirmem.
Já Lula livre, mesmo sem conseguir mobilizar a esquerda como antigamente, também resiste no nível histórico do PT de 29%. Má notícia para os candidatos de centro, que continuam esmagados pela polarização.
O ministro da Justiça Sérgio Moro, que poderia ser um candidato de centro, a cada dia se aproxima mais de Bolsonaro no que se refere à visão de combate à criminalidade, apoiando, por exemplo, o excludente de ilicitude.
Ele vence Lula mais facilmente do que Bolsonaro na pesquisa. No primeiro turno, Jair Bolsonaro teria 32% e Lula 29%. No segundo turno, Bolsonaro derrotaria o ex-presidente por 45% a 40%. Moro empataria num confronto direto com Bolsonaro – 36% a 36% -, mas teria uma vantagem sobre Lula de 48% a 39%.
A hipótese, imaginada por muitos, de que Moro possa disputar a eleição presidencial contra Bolsonaro implicaria rompimento político entre os dois, o que não acontecerá, pelo que se vê no momento, se depender de Moro. Já Bolsonaro andou tentando se livrar de seu ministro, e acabou sendo convencido pela realidade de que só perderia com o movimento.
Moro é mais popular que ele, e já se mostrou leal em diversos momentos, engolindo sapos com seu novo estômago de político. Não há, portanto, nenhuma simulação de um possível segundo turno entre os dois.
A vaga para enfrentar a radicalização dos extremos fica entre candidatos hoje sem condições viáveis: Ciro Gomes, de 9% a 12%; João Amoêdo, 5%, João Dória de 3% a 4%. Ciro está abaixo dos 12,47% que obteve na eleição de 2018.
O candidato petista na última eleição, Fernando Haddad, tem 15%, abaixo do que teve (29,2%) no primeiro turno, representando o ex-presidente, que continua inelegível pela Lei da Ficha Limpa.
Lula já está querendo vê-lo disputando a eleição para prefeito de São Paulo ano que vem, o que pode inviabilizá-lo politicamente em caso de nova derrota. Em 2016, foi derrotado por Doria no primeiro turno quando tentava a reeleição.
O único candidato potencial que teve boas novas foi o apresentador de televisão e militante do terceiro setor Luciano Huck, que obteve 9% em um dos cenários, empatando com o multicandidato Ciro Gomes. Huck não tem nem partido, dedicando-se a um trabalho de renovação na política.
Chamou a atenção semana passada ele ter sido o principal orador no lançamento da ONG do General Villas Boas, que vai cuidar de temas ligados ao desenvolvimento do Brasil e novas tecnologias para melhorar a qualidade de vida de pessoas que tenham doenças raras como a dele, que tem Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), doença degenerativa que afeta o sistema nervoso.
O General, que foi Comandante do Exército e é assessor do Gabinete de Segurança Institucional, é um ícone do Exército, sendo considerado o mais influente oficial, mesmo na reserva.
A solenidade serviu para marcar posições políticas a favor do centro, que foi definido pelo General Rocha Paiva como sinal de virtude: “Os extremos são viciosos. O centro político é democrático e liberal na economia, mas assume sua responsabilidade social com os mais necessitados”.
O General Rocha Paiva foi chamado há tempos por Bolsonaro de “melancia”, pois seria verde por fora e vermelho por dentro. Sintomaticamente, o presidente não foi à solenidade, embora tenha dito em público certa vez que se não fosse Villas Boas, não estaria hoje na presidência.
Na lista das possíveis alternativas contra a polarização, o ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, voltou a conversar com o PSB, que já queria que saísse candidato em 2018. E o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso lançou o governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite na disputa pela indicação do PSDB à presidência, provocando irritação no governador paulista, às vésperas da convenção nacional do partido que João Dória imaginava como um trampolim para sua ambição presidencial.