Mesmo antes de terminadas as investigações, o governador Wilson Witzel se antecipou e concluiu por conta própria, ou seja, por palpite, que os responsáveis pela execução de Ágatha, de 8 anos, são os “usuários de drogas”, e não o PM que a mãe da menina acusa de ter dado o tiro pelas costas de sua filha.
Na entrevista coletiva que demorou três dias para convocar, porque queria formar “um juízo de convicção”, ele apontou o dedo para um hipotético consumidor em frente à televisão, e advertiu teatralmente: “Você, que não é dependente químico, mas usa maconha e cocaína recreativamente (...), é diretamente responsável pela morte da menina Ágatha”. Simples assim. Agora era só prender.
Nada de autocrítica, nem desculpas à família da vítima, nem mesmo promessa de revisão de uma política de segurança que só este ano levou à morte de cinco crianças por balas perdidas. Pode-se dizer que, pelo menos, não houve pulinhos nem socos no ar como no desfecho do sequestro de um ônibus.
Witzel fez outras declarações patéticas ou bizarras: “não sou um desalmado, sou uma pessoa de sentimento”, “olhando minha filha de 9 anos, você acha que não choro?”, “a oposição está fazendo palanque político”, “é indecente usar um caixão como palanque”.
O pior é que tudo pode se repetir, pois o governador acha que está no “caminho certo”. Sua mais recente providência é lançar uma cartilha com instruções aos moradores para evitar balas perdidas. O problema é que elas não escolhem lugar: entram dentro de casa e até na barriga de grávidas, atingindo o bebê, como já aconteceu.
O melhor seria que o seu governo decretasse que a partir de hoje criança morta por bala perdida fosse um intolerável escândalo, não uma rotina.
Ó tempos, ó costumes! Até Fernanda Montenegro, cuja integridade, competência e correção como cidadã e profissional são irretocáveis e reconhecidas consensualmente pela classe e pelo público, não está livre de ataques de fúria de um tipo qualquer atrás de fama, ainda que seja má.