O descrédito do prefeito do Rio é tão grande que, quando ele dá uma ordem, o efeito involuntário é exatamente o contrário. A sua tentativa de censurar livros na Bienal, por exemplo, produziu o aumento de vendas que permanece até hoje, não apenas durante o evento.
Algumas livrarias montaram estantes e vitrines especiais com obras sobre o tema LGBTQI+ e esta semana tiveram que repor os exemplares. A procura dessas publicações dobrou.
Na Bienal, a revista de quadrinhos “Vingadores — a cruzada das crianças”— a tal que tinha o beijo gay, esgotou em 40 minutos. Não teve nem para os fiscais da prefeitura, que saíram de mãos abanando e cara de frustração. Depois desse sucesso, um gaiato disse que ia usar como marketing para um próximo lançamento a mensagem: “Este livro foi censurado por Crivella”.
Há quem considere que foi uma estratégia política visando à reeleição, já que ele governa para seus fiéis evangélicos e conservadores. Se é isso, o objetivo não deu certo pelo menos ao não conseguir fazer do filho, que tem o mesmo nome, deputado federal. Mesmo usando o poder da Igreja Universal do Reino de Deus, de seu tio, o bispo Macedo, mesmo tendo à disposição a máquina da prefeitura, cujo abuso lhe valeu um pedido de impeachment e uma CPI, com todo esse aparato de apoio, o rebento só conseguiu 35 mil votos e um sexto lugar na legenda.
Por falar em censura, vi “A cor púrpura”, adaptação de um musical que foi encenado na Broadway em 2005 e trata de questões que têm uma preocupante atualidade no Brasil de hoje.
No palco, a luta da mulher, e da mulher negra em especial, por liberdade, igualdade e por empoderamento. Por isso, a peça consegue tanta interação com a plateia, que, aliás, participa com aplausos e acaba fazendo parte do espetáculo, que funciona como catarse, isto é, como purgação, como descarga. No momento que vivemos, ele nos lava a alma.
A grande atração do musical é a qualidade dos artistas negros e negras que cantam, dançam e interpretam brilhantemente.
Não dá para perder.