Desde a Guerra da Lagosta, em 1962, quando atribuíram ao general De Gaulle a frase “o Brasil não é um país sério”, que ele não pronunciou, as relações entre seus presidentes não estiveram tão desgastadas. As queimadas na Amazônia chamuscaram Macron e Bolsonaro. A disputa baixou o nível quando foi postada uma montagem de fotos dos dois casais com a legenda: “Agora se entende por que Macron persegue Bolsonaro?”. O capitão debochou: “Não humilha, cara. Kkkkkkk”. (Brigitte Macron, 66 anos, é 24 mais velha que o marido, e Michelle é 27 anos mais jovem que Jair).
A resposta ao humor sexista veio em tom civilizado, mas incisivo: “O que posso dizer desses comentários extraordinariamente desrespeitosos em relação à minha esposa. É triste. Mas é triste, sobretudo, para ele e os brasileiros. Penso que as mulheres brasileiras têm, sem dúvida, vergonha de seu presidente. Penso que os brasileiros, que são um grande povo, têm um pouco de vergonha de ver esse comportamento”.
O revide foi em forma de recusa dos 20 milhões de euros que Macron, em nome do G-7, ofereceu para combater as queimadas. “Quem é que está de olho na Amazônia? O que eles querem lá?”. (Ontem, em entrevista à “Folha”, ele admitiu, pra variar, voltar atrás se “Macron retirar os insultos”. Não se referiu à fala do ministro da Educação, que xingou o presidente francês de “calhorda”).
Os que lá fora se escandalizaram com o que está acontecendo com a Amazônia certamente não acompanharam as promessas de Bolsonaro como candidato. A produtores rurais, por exemplo, ele garantiu: “Não vai ter um canalha de fiscal metendo a caneta em vocês. Direitos humanos é a pipoca, pô”.
Já o ministro Ricardo Salles, após assumir, incendiou as redes sociais ao admitir na televisão que nunca tinha visitado a Amazônia e, pior, nem sabia quem era o líder seringueiro que inscreveu a causa amazônica na agenda planetária, dando a vida em sua defesa. “O fato é irrelevante. Que diferença faz quem é Chico Mendes?”, indagou, inaugurando o festival que assola o país: o da ignorância arrogante.