‘Essa é a polícia que queremos”, disse o coronel Mauro Fliess, porta-voz da PM, resumindo o desfecho das três horas e meia do sequestro de um ônibus com 37 passageiros ontem de manhã na Ponte Rio-Niterói. A única vítima foi o sequestrador, morto por um atirador de elite. A operação foi considerada tecnicamente perfeita.
O governador Wilson Witzel chegou no final e comemorou o feito com pulos e abraços nos soldados. Tomara que o episódio lhe sirva de lição, pois é o oposto de sua política de segurança, sobre a qual eu acabara de escrever o seguinte:
“Apesar dos resultados desastrosos — o mais recente foi a morte de seis jovens inocentes —, o governador insiste no confronto. Para ele não alegar que a crítica é de quem não entende do assunto, cito a opinião de dois importantes generais: Santos Cruz e Richard Nunes. Durante a intervenção federal no Rio, eles defenderam o fim dos enfrentamentos e propuseram ações sociais dos militares nas comunidades.
A posição coincidia também com a de José Mariano Beltrame, que foi secretário de Segurança do Rio por dez anos. Ele advertia que a reconquista do território aos bandidos era indispensável como primeiro passo, não como solução. Argumentava que a razão das UPPs era “criar um terreno fértil para a geração de dignidade” nas favelas e periferias, “não apenas a presença da polícia”.
O ânimo do atual governador, porém, é beligerante, ao contrário dos moradores. “O que queremos”, diz a coordenadora de comunicação da ONG Redes da Maré, Daniele Moura, “é diálogo e trabalho policial com eficácia, sem mortes, como existe na Zona Sul e em outras partes da cidade”.
Mas Witzel não está nem aí. A culpa, segundo ele, é dos “pseudodefensores dos direitos humanos”: “esses cadáveres não estão no meu colo”, declarou, sem esclarecer se os muitos outros estão. Sua última pérola: “as pessoas já deveriam saber que não podem ficar em pontos de ônibus durante operações policiais nas proximidades”. Como se elas ficassem ali por prazer, e não por necessidade.
O governador diz que “não vai ceder um milímetro”, ou seja, vai insistir em uma política que de janeiro até agora já causou 33 vítimas fatais só de balas perdidas.