Em Brasília, por ocasião das comemorações do 37º aniversário da Associação Brasileira das Mantenedoras do Ensino Superior (ABMES), o seu presidente Celso Niskier homenageou uma importante educadora brasileira com a Outorga do Mérito. Trata-se da professora Gina Vieira Ponte, nascida e criada na cidade de Ceilândia, cujo discurso arrancou demorados aplausos da plateia. São suas palavras:
“Preciso agradecer ao meu pai, seu Moisés, e à minha mãe, dona Djanira, ambos falecidos. A eles foi negado o direito à escolaridade, mas não mediram esforços para que eu e meus cinco irmãos tivéssemos pleno acesso à educação formal. Agradeço também a todos os que abraçaram o ‘Projeto Mulheres Inspiradoras’ e tornaram possível que ele hoje estivesse presente em 40 escolas públicas do Distrito Federal. Nasceu do nosso desejo de ressignificar o espaço escolar”.
E disse além: “Percebemos que as altas taxas de evasão, repetência e abandono se explicam pela insistência num modelo educacional instrucionista, obsoleto, que coloca o professor e o ensino no centro do processo e delega ao estudante a condição de objeto e mero espectador”.
Vale a pena falar um pouco sobre o projeto criado pela professora Gina. A ideia surgiu após ela observar, na escola onde atuava, que algumas práticas não estavam ajudando a melhorar o desempenho dos estudantes, como, por exemplo, a opção por atividades repetitivas, como copiar trabalhos na lousa e aplicar tarefas escolares excessivas. Ela observava que, em vez de enfatizar o ensino na aprendizagem e no aluno, a rotina desenvolvida focava tão somente no ensino e no professor. O resultado era a ausência de motivação dos alunos para frequentar a unidade escolar. A falta de um professor muitas vezes era até comemorada. Como mudar essa questão passou a ser a preocupação da professora. Foi quando surgiu a ideia do ‘Projeto Mulheres Inspiradoras’.
As turmas levaram a sério a proposta de estudar a vida de dez mulheres importantes, para, depois, desenvolverem trabalhos de campo, entrevistando pessoas da comunidade. As personalidades escolhidas foram: Lygia Fagundes Telles, Anne Frank, Cora Coralina, Malala Yousafzai, Nise da Silveira, Zilda Arns, Carolina Maria de Jesus, Irena Sendler, Maria da Penha Fernandes e Rosa Parks. O resultado foi surpreendente e mudou a vida de mais de 3 mil estudantes do Distrito Federal. Agora, eles estão mais engajados no trabalho pedagógico, fortaleceram os vínculos familiares e aproximaram a escola da comunidade. Sem falar nos prêmios já conquistados, até então doze, incluindo dois internacionais. Destaques para o “4º Prêmio Nacional de Educação em Direitos Humanos”, da Presidência da República, em 2014, e o “1º Prêmio Ibero-Americano de Educação em Direitos Humanos”, da Organização dos Estados Ibero-Americanos, em 2015.
Na solenidade da ABMES, a professora Gina Vieira Ponte defendeu que os cursos de licenciatura deem a oportunidade aos licenciados de compreender que é fundamental garantir aos estudantes o direito à aprendizagem, e que esse direito só será efetivamente garantido quando entendermos que escolas não são prédios, são pessoas. Em outro momento, ela foi enfática em seu discurso: “Queremos uma escola viva, que promova aprendizagem, desenvolvimento integral e construção do pensamento crítico. Devemos nos afastar de qualquer proposta que trabalhe na perspectiva de silenciar professores e solapar as identidades plurais dos estudantes”. Trata-se de uma bela história.