Dava para notar o aumento do número de pessoas queixando-se desse nosso cotidiano de más notícias: “Ando muito deprê, muito deprimido/a”. Duas excelentes reportagens na TV reforçaram a percepção do fenômeno — uma no “Fantástico” e outra no “Quebrando o tabu”. A depressão não é nova, apenas saiu do armário: as vítimas estão vencendo o preconceito.
Já no século V Antes de Cristo, Hipócrates, o pai da medicina, diagnosticava-a como “melancolia”, causada por “fatores internos e ambientais”. Também o teólogo Cassiano descrevia a dor do coração como “o demônio do meio-dia”. A propósito, é como se chama o livro do escritor americano Andrew Salomon, uma espécie de bíblia que faz a “anatomia da depressão”. Lançado aqui em 2002, ele conta como na velha Grécia o mal era atribuído ao excesso de “biles negra” e tinha como sintomas “tristeza, ansiedade, tendência ao suicídio, desânimo, insônia, irritabilidade”.
Parece que estou ouvindo os entrevistados do dr. Drauzio Varella na série do Fantástico intitulada “Não tá tudo bem, mas vai ficar”. As queixas são as mesmas registradas por seu colega, o dr. Hipócrates. Em resumo: incapacidade de sentir prazer, angústia, baixa autoestima.
Dois depoimentos revelam como a doença não escolhe idade: o de Pedro Bial, que foi atingido na passagem dos 40 anos motivado por causas externas, “traumatizantes”, e o da cantora Paula Fernandes, que entre os 16 e os 18 anos mergulhou no desespero, perdeu sete quilos, os cabelos caíram e ela não conseguia encontrar razão para tanto sofrimento: “Sou bonita, sou jovem, sou inteligente. Por quê?” Decidiu então atirar-se da janela. “Minha mãe me salvou, abraçando-se comigo”. Surpreendeu-me também saber que no Brasil, tido como hedonista, terra do carnaval, existem 12 milhões de pessoas com o mesmo mal, entre as quais há um em cinco adolescentes. Drauzio adverte: “Não é frescura. Não é preguiça. Não é falta de força de vontade. Depressão é doença”.
A boa notícia é que há tratamento.