Como narra Andersen na história das roupas novas do rei, por vezes os reinos ficam à mercê do imponderável e parecem desprotegidos. Uns espertalhões aduladores convencem o rei que de que lhe estão fazendo trajes magníficos, invisíveis a idiotas e ladrões. Vazam a informação sobre essa qualidade dos tecidos e toda a corte passa a elogiar os novos figurinos. Até que uma criança revela o óbvio: aquilo não existe e o rei está nu.
Como conta Suetônio, na Roma dos césares não houve criança para salvar a situação. Calígula resolveu nomear um novo senador : seu cavalo Incitatus. Dito e feito. Não apareceu quem o contestasse, não havia democracia, e o absurdo seguiu num crescendo — o imperador matou até a própria mãe.
Como evoca Manuel Bandeira em poema célebre, também a Espanha teve uma rainha demente, Joana a Louca — cujo poder foi limitado pelo confinamento e passou a sucessivos regentes.
Como vimos em filme premiado, o rei George III da Inglaterra ficou doido no trono, no século XVIII. A corte bem que tentou ver a loucura como excentricidade, mas a camisa de força terminou sendo inevitável. Aliás, um de seus médicos também foi chamado para tratar de outro caso de governante maluco na mesma época: nossa Maria, a Louca, de Portugal, mãe de D. João VI. Acabou afastada, e o filho assumiu a regência em 1792 — ano em que Tiradentes, condenado no reinado dela, foi morto na forca.
Como escreveu Machado de Assis, um certo Simão Bacamarte todo poderoso diagnosticava a loucura alheia, internando aos poucos na Casa Verde os moradores que julgava insanos — até que a população achou que passava dos limites e internou o próprio alienista.
Aqui, já temos juiz do STF a classificar de inadmissível, outro a sugerir mordaça e jurista de renome a falar em interdição de alucinado. A julgar pela novela que se desenrola a cada dia, pelos destemperos, delírios vingativos e arroubos personalistas, e diante da insanidade da escalada retórica, a chapa está esquentando neste agosto.