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Afrouxando os controles no trânsito

 

Como dizer a uma criança de 6 anos, como meu neto Eric, que ele não será mais obrigado a andar sentado na cadeirinha do carro se for aprovada mais essa proposta absurda do presidente. Não fora fácil convencê-lo de que o incômodo valia a pena, pois pouparia sua vida e o bolso do pai, conforme determina a resolução 277 do Contran, que multa a infração, classificando-a de gravíssima.

Para conscientizá-lo do perigo, foram usados como argumentos de convencimento, além de palavras ou as ameaças de punição, um vídeo que simulava com um boneco o que aconteceria se não fosse obedecida a ordem de manter-se sentado, preso por um cinto de segurança enquanto o veículo estivesse em movimento. O seu corpo seria atirado de um lado para o outro no caso de uma freada brusca, de uma colisão ou capotamento.

Depois de 2008, quando entrou em vigor a decisão atual, as mortes de bebês e crianças no trânsito diminuíram 60%. Por que alterá-la? Calcula-se que o equipamento reduz em até 71% os riscos de morte na eventualidade de um acidente.

Junto com os acidentes de trânsito, os homicídios estão entre as principais causas de morte no Brasil, e são justamente as ocorrências que os decretos editados por Bolsonaro, em vez de apertar, afrouxam os controles. “Há uma série de estudos que dizem que a flexibilização de armas gera uma casualidade de aumento da violência. É um consenso”, afirma Bruno Paes Manso, pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP.

Também o Mapa da Violência, recém-divulgado pelo Ipea, afirma que a difusão de armas faz aumentar a insegurança pública. Daniel Cerqueira, técnico de Planejamento e Pesquisa do instituto, resume: “As mudanças propostas são uma senha para a tragédia”. Os especialistas não estão sozinhos. Pesquisa do Ibope revela que 73% dos brasileiros são contra essa onda armamentista.

Parece que só Bolsonaro não quer ver que mais armas, mais mortes.

O Globo, 12/06/2019