Estamos nos acostumando a ignorar leis. Nem por isso elas deixam de existir. Os níveis de corrupção, violência e os seguidos desastres atestam um processo que começa no desprezo aos deveres mais elementares e consagram o desrespeito aos direitos fundamentais e às determinações legais mais simples.
Parece que resolvemos também revogar as leis da ciência. Espalham-se atitudes calcadas na ignorância delas. Negar a evolução das espécies. Dizer que a Terra é plana. Que não há aquecimento global nem perigo crescente nas mudanças climáticas. Que vacina é desnecessária e não funciona. Que amianto não faz mal à saúde. Que plano diretor urbano é tolice. Que desmatar não tem problema. Que se pode invadir e construir em qualquer lugar sem respeitar limites. Que defender matas, lagoas, rios e mares ou combater uso descontrolado de plásticos é coisa de hippie tontinho. Que reassentar moradores de áreas de risco é pecado político.
Mas a realidade é outra — e regida pelas leis da física. A da gravidade garante que construções desordenadas em encostas vão cair, pedras vão rolar, deslizamentos vão soterrar o que está embaixo. A da impenetrabilidade da matéria afirma que manilhas e canos entupidos com detritos não deixam passar água e levam a inundações. A ciência ensina que metal conduz eletricidade e fio desencapado pode eletrocutar. Que vazamento de combustível pode matar. Que materiais inflamáveis que liberam gases tóxicos matam quando usados em revestimentos de casas noturnas ou dormitórios de atletas. Que a resistência de materiais tem limites, drenagem com problema pode minar muros, viadutos, barragens.
A ciência tem leis. A cidade também. Construções ilegais estão fadadas a desabar.
Não é só porque as escolas não estão ensinando. É também porque não aprendemos, escolhendo só acreditar no que queremos. Mas o real se impõe. Sem respeitá-lo, sobra apenas a lei do mais forte.
A humanidade construiu civilizações sendo racional. Desprezar a razão é catastrófico.