Estava numa roda quando o tema da conversa passou a ser o aumento do IPTU. As queixas eram gerais: um falava que pagara 30% a mais, outro, 40%, e assim por diante. O consenso era que essa arrecadação recorde não se traduzia em boa qualidade dos serviços públicos; ao contrário, as mazelas também aumentavam. Não se falava nem das calamidades — as crises dos hospitais, da educação, da (in) segurança, do trânsito — mas das mazelas crônicas — o desleixo, o abandono, a sujeira, os buracos — que infernizam o nosso dia a dia no Rio.
Contei que fora à Cinelândia à noite, depois de muito tempo, e ficara chocado com o que encontrei em matéria de degradação urbana. Tropeça-se com pessoas estiradas nas calçadas, disputa-se espaço com camelôs gritando seus produtos contrabandeados, enfrenta-se o mau cheiro e o barulho. O caos.
“Você nem parece que mora na Zona Sul”, ironizou alguém, observando com razão que aqui também o cenário não é muito diferente. De fato, não é. Basta dizer que deixei de caminhar no calçadão por causa dos buracos e das pedras portuguesas soltas. Já tinha ouvido histórias de acidentes graves (uma senhora fraturou o fêmur), mas insistia, até o dia em que eu mesmo quase caí ao tropeçar em uma dessas pedras. O tombo, como se sabe, é o maior inimigo do idoso.
Então, achei mais prudente caminhar na pista de asfalto aos domingos, quando é reservada aos pedestres. Rodas, só de cadeiras e de carrinhos de crianças. Em tese, pois essa pista é invadida por bicicletas em alta velocidade e triciclos. Uma vez, vendo um cadeirante quase ser atropelado por um ciclista, chamei a atenção do guarda municipal que conversava animadamente com dois colegas. “O que que o senhor quer que eu faça?”, ele desafiou. “Que o senhor exerça sua autoridade”, respondi. O seu olhar de espanto era de quem estava diante de um ser de outro planeta.
No dia seguinte, o leitor Carlos Eduardo Serra mostrava os cálculos. “De janeiro de 2017 para janeiro de 2018, o aumento do IPTU foi de 62%. Em janeiro deste ano, mais 40%.” No total da era Crivella, ele concluía que esse imposto aumentara 125%. “Um verdadeiro crime contra a economia popular”. No Rio, a desordem custa caro.