O governo que assume dentro de seis dias inspira esperança nunca antes neste país registrada em pesquisas, como constata o Datafolha. O otimismo do brasileiro com a economia está em níveis recordes. Segundo o instituto, cresceu de 23% para 65% o índice dos que acham que a situação econômica do Brasil vai melhorar nos próximos meses.
Este é também o primeiro governo de direita que assume o país desde 1994, quando nossa versão de social-democracia europeia chegou ao poder com Fernando Henrique Cardoso.
Foram 22 anos de governos de esquerda, responsáveis, para o super ministro da economia Paulo Guedes, pelo nosso crescimento econômico medíocre. Anteriormente, houve a experiência malsucedida de Fernando Collor, um populista de direita assim como Bolsonaro, que derrotou a esquerda, assim como Bolsonaro.
O voluntarismo de ambos é característica que, antes como agora, define a maneira de governar e pode levar a um isolamento político perigoso se quiser ser sustentado pelo amplo apoio popular que hoje detém.
Jânio Quadros renunciou achando que o povo o levaria de volta ao poder. Lula, com 80% de aprovação quando saiu do governo, pensava que o povo não o deixaria ser preso. Está na cadeia há quase um ano. Collor chamou o povo para defendê-lo nas ruas com as cores verde e amarelo, e foi derrotado por uma avalanche de pessoas de luto pelo país.
Governava através de mensagens em camisetas feitas especialmente para a ocasião. Exibia frases de impacto, como “Drogas, Independência ou Morte”, “Não fale em crise. Trabalhe”, e a mais famosa: “O tempo é o senhor da razão ”, para dizer-se inocente. Conseguiu não ser condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por falta de provas, muito antes do que os críticos chamam de “a teoria jurídica de Curitiba” entrar em vigor, mas está às voltas novamente com processos de corrupção.
Não havia os novos meios de comunicação que hoje empoderam os representados, o que, porém, pode voltar-se como bumerangue contra o populista da ocasião.
Mas não apenas os direitistas se utilizam da imagem de gente comum, que teve em Jânio Quadros uma referência: homem culto e refinado, que gostava de comer bem e de bons vinhos, tirava do bolso um sanduíche de mortadela que mastigava em atos públicos, o terno sempre infestado de caspa.
Atos de Bolsonaro o mostram como o espelho de Lula, e alimentam essa rivalidade propositadamente. A política externa Sul-Sul, implantada pelos governos petistas para compensar a dificuldade de instalar seu projeto socialista internamente, será substituída agora por outra, ligada umbilicalmente aos Estados Unidos, numa mistura explosiva de Bolsonaro e Trump que ninguém sabe no que vai dar.
Voltamos aos tempos da ditadura militar, quando o político Juracy Magalhães, então embaixador brasileiro, disse a célebre frase: “O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”. Acabou chanceler do General Castelo Branco.
A camiseta usada pela futura primeira-dama Michelle, com uma frase referente ao ex-presidente Lula, é mais um ponto de semelhança de ação populista, assim como as fotos casuais que Bolsonaro dispara pela internet em seu dia adia.
Bolsonaro se orgulha de ser militar, de usar roupas militares. Lula usava modelos militares com o brasão da República quando era necessário, e se vestia, à la Doria, com o uniforme laranja da Petrobras para comemorar a autossuficiência que nunca veio.
Bolsonaro dia desses colocou um quepe da Marinha e comparou-se com Lula, se diferenciando ideologicamente: “Se o outro usava chapéu da C UT, eu boto esse ”. A foto icônica do então presidente Lula carregando uma caixa de isopor na cabeça numa reserva da Marinha na Bahia é do mesmo teor da de Bolsonaro pendurando roupa no varal na reserva de Marambaia.
A diferença é que a própria equipe do presidente eleito divulga suas fotos na internet, e naquela ocasião Lula se deixava fotografar pelos jornalistas. Com a evolução das novas mídias, Lula passou a ter um fotógrafo pessoal para divulgar suas andanças pelo país. Mas também sofreu com os smartphones, tendo sido fotografado fantasiado de caipira e nada sóbrio em uma festa de São João no Palácio da Alvorada.