Eleito em pleito democrático, o presidente Bolsonaro, no uso de seu direito, escolheu uma pastora da Igreja Quadrangular, Damares Alves, para a pasta que cuidará de Mulheres, Família e Direitos Humanos.
A ministra tem opinião formada sobre o que é ser mulher: “A mulher nasceu para ser mãe e o homem protetor, cuidador e provedor”. De que mulheres e homens está falando?
Será ministra de um país em que mulheres ocupam a metade do mercado de trabalho, a natalidade vem caindo sem nenhum programa de planejamento familiar, por livre escolha das mulheres. O aumento da escolaridade abriu para elas outros horizontes, o que não significa que não criem os filhos que têm com dedicação e amor. O número de lares brasileiros chefiados por mulheres saltou de 23% para 40% em 20 anos segundo os dados do Ipea.
A ministra quer um país sem aborto e diz que não tratará do assunto. No Brasil, os abortos clandestinos são mais de um milhão por ano, refletindo uma política de prevenção precária e um tempo em que as mulheres exercem a liberdade de decidir quando querem ser mães. Um país sem aborto seria o resultado da eficácia mágica de uma politica pública ou da repressão que punisse o aborto como crime, na contramão de um mundo em que a maioria das democracias ocidentais já o descriminalizou?
“No Brasil, uma mulher é estuprada a cada 11 minutos. A cada sete uma sofre violência doméstica. Esses são os números oficiais. E as que não denunciam? É uma nação que machuca as mulheres”. Tem razão a ministra, machuca e mata. É o quinto país do mundo em morte violenta de mulheres. Doze crimes de ódio contra mulheres é a média diária no Brasil. O número de estupros em 2017 chegou a 60 mil, crescimento de 8,4 % acima do ano anterior.
Números oficiais existem porque há décadas as mulheres brasileiras lutam para serem cidadãs. Graças a elas, temos a Lei Maria da Penha. Continuarão a lutar, apostando na democracia brasileira e no Estado laico. O massacre contra elas desafia a sociedade, o governo e a ministra.