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Por que é mais fácil explicar o fracasso do que o sucesso?

 

Por que é mais fácil explicar o fracasso do que o sucesso? Talvez porque um passo em falso basta para provocar uma queda, enquanto o contrário, o sucesso, é uma construção mais complexa que depende de vários fatores. No primeiro turno, Fernando Haddad perdeu porque foi mais Lula do que ele, garantem. Já Bolsonaro ganhou porque... Aí segue-se uma enxurrada de hipóteses pretensamente elucidativas.

Uma vez fui convidado a escrever o livro “Explicando Paulo Coelho”, o exemplo mais notório e duradouro de êxito, não só aqui como lá fora. Aceitei empolgado. Afinal, se tratava, e se trata, do único escritor nosso que já vendeu mais de 350 milhões de exemplares em cerca de 150 países. “O Alquimista” permaneceu sete anos, ou 364 semanas, na lista de mais vendidos do “New York Times”, sendo o título nacional mais lido em todos os tempos... Eu passaria o resto da coluna citando recordes. Mas e a explicação?

Desisti do trabalho. Argumentei que, se eu descobrisse o segredo desse fenômeno, não ia contar para ninguém, ia usar para mim. A sério, o que eu queria dizer é que não há receita, cada caso tem sua ou suas lógicas ou combinação delas.

Há várias tentativas de decifrar as causas do sucesso do candidato do PSL. A mais recente que li é do tucano histórico Xico Graziano, que deixou o PSDB, do qual foi uma dos fundadores, para apoiar o capitão. Ele escreveu um artigo no site “Poder 360” propondo uma análise pela “tríade conceitual” cuja fórmula é “Bolsonaro=3D – PT”.

Na tradução do autor: “Bolsonaro é de direita, é direito e é direto”. “Desde 1991, com sete mandatos na Câmara”, afirma Graziano, “ninguém o acusou de safadeza. E é direto: fala o que pensa, não floreia, não faz discurso cheio de trololó, não foge de assuntos difíceis”.

Será Bolsonaro o único político brasileiro de direita, direito e direto? Qual o peso do antipetismo nessa história? Como fica a tese de Tom Jobim, que afirmava: “No Brasil, sucesso é ofensa pessoal”?

Como veem, comecei e terminei esse artigo com o ponto de interrogação.

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Em homenagem a Fernando Sabino, que nesta sexta-feira completaria 95 anos, lembro o que ele dizia de seus conterrâneos: “O mineiro é tão cauteloso que, quando lhe perguntam qual o seu nome todo, ele responde: “Qual a parte que você sabe?”.

Numa época em que “Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”, para lembrar a peça de Ferreira Gullar e Vianinha escrita em outro tempo de impasse (em 1966), nunca se precisou tanto da precaução mineira. Antes de responder, é sempre bom perguntar o que o outro sabe.

O Globo, 13/10/2018