O país ficou congelado no tempo, como os personagens da novela, e, a exemplo deles, os políticos mantêm-se com os mesmos hábitos. Há trinta anos vivíamos em uma encruzilhada: Collor ou Lula? Essa é mais uma coincidência dessa eleição com a de 1989, a primeira direta depois da redemocratização. Essa história já conhecemos, e termina mal.
O Lula de 2018 está mais próximo do de 1989 do que daquele de 2002, que foi eleito presidente numa guinada de centro. Hoje, da cadeia, ele comanda a campanha de seu “poste”, que não se vexa em assumir abertamente esse papel. Haddad, diante da possibilidade real de chegar ao segundo turno, ensaia transformar-se em candidato “paz e amor”, que combina bem com seu jeito “tucano” de fazer política, mas não corresponde à realidade.
O PT de Lula só quer saber de pacificação circunstancialmente, por pragmatismo eleitoral. Eleito, Haddad fará um governo na linha petista ditada por Lula, radical e antidemocrática. O PT de 2002 na verdade nunca existiu, era só uma fachada para o grupo político chegar ao poder e atravessar os primeiros anos sem turbulência.
Já atuava fora da lei nos governos municipais que ganhara anteriormente à chegada ao Palácio do Planalto. E levou para Brasília os métodos viciados da baixa política sindical, comprando votos no Congresso, distorcendo a democracia. Quando se sentiu forte, voltou à sua origem, e gerou, na sequência de Lula e por causa de políticas populistas que se iniciaram quando Palocci saiu do Ministério da Fazenda, a maior recessão que o país continua a viver.
Para eleger Dilma, acelerou os gastos conseguindo um crescimento de 7,5%, mas abrindo as portas do inferno por onde passaria sua sucessora. Assim como Lula em seu primeiro mandato e Dilma já no segundo, procuraram nos adversários boias de salvação, também Haddad na versão light deixa vazar que seu futuro Ministro da Fazenda seria um economista que agradaria ao mercado e garantiria o equilíbrio das contas públicas como prioritário.
O nome de Marcos Lisboa, com quem Haddad trabalha no Insper, é soprado a boca pequena. Mas Lisboa deve estar lembrado do que passou nas mãos dos petistas quando trabalhou como secretário de política econômica do então ministro Palocci. Todos os que não eram petistas “de raiz” foram boicotados, assim como Joaquim Levy o foi pela própria presidente que o convocou. Por isso, certamente, classificou de "divertidas" essas especulações.
Eleição estranha, com dois candidatos de campos antidemocráticos, e liderando com os índices de rejeição maiores do que as intenções de voto. Depois do mensalão e do petrolão, e da tentativa permanente de desacreditar, aqui e no exterior, nosso sistema judicial, fica muito difícil imaginar que o PT possa ser considerado um participante do campo democrático legítimo; como também é difícil avaliar assim Bolsonaro, por seus atos e pelo que sugerem seus principais assessores.
Ele mesmo já disse inúmeras vezes que as minorias têm que se submeter às maiorias, uma visão simplista de questões complexas numa sociedade de democracia de massas. Mas que revela alguma coisa. Curiosamente, esse pensamento é semelhante ao do ex-presidente Geisel, o único presidente do regime militar que Bolsonaro critica.
Quando, em 1977, perdeu a maioria de dois terços no Congresso e ao mesmo tempo o MDB se recusou a aprovar uma reforma do Judiciário, Geisel criticou o que chamou de "ditadura da minoria". Depois, fechou o Congresso por duas semanas, e editou o "Pacote de Abril". Impôs a reforma do Judiciário que o Congresso rejeitara e um conjunto de medidas para garantir a vantagem da Arena no Congresso e nas eleições para governadores, que continuaram indiretas.
A proeminência que seu vice, o General Mourão, ex-presidente do Clube Militar, ganhou depois que Bolsonaro foi afastado da campanha devido ao atentado sofrido tem revelado a dissidência interna de sua equipe mais próxima. Questões como intervenção militar vêm ganhando espaço no debate político, indicando que, assim como Haddad será tutelado da cadeia por Lula, também Bolsonaro tem em torno de si o pensamento militar com uma visão intervencionista que, se combina com o pensamento do próprio candidato, não combina com a normalidade democrática.