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Duelo previsível

 

A eleição deste ano vai ser definida entre os dois candidatos que têm a maior rejeição entre todos. O crescimento expressivo do candidato do PT Fernando Haddad, que mais que dobrou sua votação entre as duas recentes pesquisas do Ibope, e a manutenção da tendência de alta de Jair Bolsonaro, mesmo que dentro da margem de erro, leva a crer que os dois disputarão o segundo turno, que, aliás, será acirradíssimo, com Bolsonaro e Haddad empatados. 

 Ciro Gomes descolou-se do grupo que ainda sonhava estar no segundo turno, mas também viu aumentar sua distância para Haddad. Ciro ficou estagnado, Alckmin e Marina continuam em queda. Essa tendência, revelada tanto pelo Datafolha quanto pelo Ibope, faz com que o voto útil tenha direção certa, seja para Haddad, ou para Bolsonaro.

A rejeição a ele continua acima de 40%, embora em pequena queda. Já Haddad soma a sua rejeição à de Lula, que é um grande cabo eleitoral, mas também um peso. A disputa entre os dois pode ser antecipada para 7 de outubro.

Bolsonaro, com seu antipetismo exacerbado, quer ganhar no primeiro turno para encurtar o tempo de campanha, da qual ele participa a meia-bomba. Sem poder ir aos debates, pelo menos no primeiro turno, Bolsonaro virou alvo de críticas generalizadas e seu vice, General Mourão, é a bola da vez. Cada declaração polêmica que dá volta feito um bumerangue contra sua chapa.

Já Haddad pretende transformar a disputa entre civilização, que ele representaria, e a barbárie, que seu adversário encarnaria. O petista está lançando propostas de aliança no segundo turno com Ciro e Alckmin: quem chegasse ao segundo turno teria o apoio dos outros. Mas o que pretende mesmo é pegar os eleitores tanto de Ciro e Marina quanto do PSDB, para impedir a vitória de Bolsonaro no primeiro turno e, quem sabe, ser ele a vencer sem precisar de um segundo turno.

Essa tentativa de fazer aliança através das cúpulas partidárias não parece se adequar ao espírito do momento, que depende muito mais do sentimento dos eleitores do que de uma iniciativa dos partidos. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, embora insista em afirmar que está com Alckmin até o segundo turno, é favorável ao apoio do PT caso isso não aconteça, como se os eleitores do PSDB fossem na maioria de esquerda.

O melhor exemplo dessa separação entre os partidos e o eleitorado é a campanha do tucano Geraldo Alckmin. Conseguiu um acordo amplo com o centrão e ganhou o maior tempo de televisão. Mas os eleitores não estão interessados nesses esquemas da velha política, e abandonam Alckmin.

Mesmo as críticas à adesão ao centrão, que pode ter decepcionado uma ala mais progressista do PSDB, não justificariam por si só a baixa intenção de votos. Mesmo porque vários desses caciques estão liderando as pesquisas em seus Estados. Se se empenhassem pela candidatura de Alckmin, certamente ele estaria em melhor situação.

Mas políticos como os do centrão sentem o cheiro da derrota de longe, e já se bandearam para outros lados que, como sempre acontece nesse tipo de político, pode ser à esquerda ou à direita, já estão negociando com o PT, para refazer a aliança que nos levou a essa situação de crise econômica, ou com Bolsonaro.  

O apoio de Ciro ao PT já anunciado para o segundo turno revela um sentimento de impotência diante do crescimento de Haddad, e confunde os eleitores de centro que pretende atrair. O índice de votos nulos e em branco continua sendo mais alto que nas eleições anteriores, o que indicaria que ainda há quem possa mudar de idéia.

A maior prova de que o país está dividido é o resultado da pesquisa no segundo turno. Todos empatam com todos, mas o eleitorado está em evolução. No segundo turno, se houver, Bolsonaro, que perdia de todo mundo nas primeiras pesquisas, hoje já empata com todos e ganha de Marina, que era a única que o derrotava no início da campanha.

O Globo, 19/09/2018