Esta é uma eleição fantasmagórica, e não apenas porque o principal líder de esquerda está na cadeia, impedido de disputar a eleição por ter sido condenado por corrupção, e Bolsonaro, que se tornou o líder de uma direita que parecia não existir no Brasil, estar no hospital, após ter sido esfaqueado.
Os fantasmas dos dois dominam as campanhas dos que, até o momento, podem ir para o segundo turno. E os fantasmas da história recente do país, a escolha dos vices, assustam os eleitores. Imaginemos que Bolsonaro, eleito, não esteja em condições de assumir a presidência em janeiro. Assumiria o também polêmico General Mourão, que fala de autogolpe como se falasse que vai ali na esquina e já volta.
Seria uma repetição como farsa da tragédia de Tancredo. E o que dizer de Haddad, que tem como vice a Manuela DÁvila, política inexperiente do radical PC do B ? Outros fantasmas assombram, como a possibilidade de um autogolpe, seja por parte de Bolsonaro, que já tem militares da reserva defendendo abertamente a intervenção “em caso de caos”, seja por parte do PT.
Os dirigentes petistas já anunciam que a prioridade é inocentar Lula, mas não através de recursos ao Judiciário, mas pela iniciativa do novo presidente de indultá-lo, o que seria um golpe contra o Estado de Direito. Não à toa os dois falam em golpe. Primeiro foi o PT, que dizia que eleição sem Lula é golpe. Agora é Bolsonaro, que põe em dúvida a lisura do pleito, sugerindo que as urnas eletrônicas não são confiáveis.
Com as pesquisas mostrando que o segundo turno hoje provavelmente seria entre Bolsonaro e o “laranja” de Lula, já começa uma reorganização dos eleitores em direção ao voto útil. Bolsonaro está sentindo o cheiro de uma vitória já no primeiro turno e, do leito do hospital, assesta suas baterias contra o PT, assumindo o papel de antilula que tirou do PSDB.
É possível que o voto útil da centro-direita vá em direção de Bolsonaro, pelo receio da volta do PT, embora as pesquisas mostrem que Bolsonaro tem condições de vencer no segundo turno. Mas, como dizem que segundo turno é uma nova eleição, nunca se sabe, melhor tentar resolver logo, podem estar pensando.
Foi o que aconteceu na eleição para Prefeitura de São Paulo em 2016, o tucano João Doria ganhou no primeiro turno quando a presença de Haddad no segundo pareceu uma ameaça. Mas há ainda outras direções para o voto útil, como as dos candidatos de centro, Alckmin e Marina, e, sobretudo Ciro, que é quem vence Bolsonaro no segundo turno.
Esse voto útil pode ter uma conseqüência estranha, se não houver chance, o que é mais provável, de Bolsonaro ganhar no primeiro turno. Os votos de direita que forem para Ciro, se ele for o que tem mais condições de impedir que o PT cresça, podem migrar novamente para Bolsonaro no segundo turno.
Os candidatos que disputam com o PT um lugar no segundo turno não podem é deixar que Haddad se distancie muito, como mostram as pesquisas CNT/MDA e a do BTG divulgadas ontem. Hoje o Ibope vai tirar a prova dos nove. Há o risco de eleitores de Ciro no nordeste e na esquerda irem para Haddad no primeiro turno se parecer que o voto útil da direita vai tirar o PT da disputa.
As campanhas dos adversários que ainda nutrem esperanças de bloquear a chegada do PT estão acelerando. Ciro Gomes já está divulgando mensagens contra esquerda e direita, colocando-se como a saída de centro mais viável. Mas a campanha de Marina manda sinais de que continua no jogo, avaliando que eleitores de centro direita não votam em Ciro, e que a esquerda não vai de Alckmin de jeito nenhum. Marina vai aparecer como a transição, recebendo votos dos dois lados, acreditam seus assessores.
Mas, paradoxalmente, os assessores de Alckmin vêem na subida acelerada de Haddad um estímulo aos eleitores do voto útil de centro. Os 10% que hoje estão com Amoedo, Meirelles e Álvaro Dias, nessa análise tucana, migrariam para o candidato do PSDB, além de indecisos e os hoje dispostos a votar nulo ou em branco, tudo para barrar a ida do PT ao segundo turno.