É possível que a imprensa tenha se comovido mais com o atentado contra Jair Bolsonaro do que os eleitores. O primeiro resultado da pesquisa Datafolha após o ataque não confirmou, pelo menos até agora, as expectativas de que a facada iria favorecer, de maneira decisiva, a campanha do candidato do PSL. O general Hamilton Mourão, vice da chapa, acreditava que o ataque amenizaria a imagem de radical de seu líder, criando em torno dele uma aura de vítima que reduziria de maneira drástica seu índice de rejeição, não apenas de 44% da pesquisa anterior para os 43% de agora. E que a taxa de aprovação seria bem maior — não apenas de 22% para 24%.
No dia seguinte ao atentado, o general-vice declarava em entrevista à “Central das Eleições”, da GloboNews, que a orientação era para que os militantes moderassem o tom, não exacerbassem os ânimos. Ao mesmo tempo e sem qualquer combinação, os principais adversários de Bolsonaro prestavam-lhe solidariedade e retiravam da propaganda eleitoral as críticas a ele. O clima era de reconciliação e de civilidade.
Enquanto isso, com a bandeira branca hasteada pelos adversários, Bolsonaro ganhava uma positiva e natural cobertura jornalística. De defensor da violência e propagador do ódio, passava a paciente impotente de um ato covarde. Assim, talvez para aproveitar a inesperada exposição, ele resolveu posar sentado numa poltrona da UTI empunhando dois imaginários revólveres e fingindo atirar.
Era o resgate da imagem belicosa daquele que prometia “fuzilar a petralhada do Acre”, e que há tempos chegou a afirmar em palestra para executivos que “através do voto não se vai mudar nada neste país, só por meio de uma guerra civil que matasse 30 mil”.
A partir de agora, é provável que comece uma outra campanha, com o crescimento de Haddad e Ciro, e cujo tom será dado pela estratégia a ser adotada por Bolsonaro — se a de uma versão paz e amor que tentaria livrá-lo da recusa recorde ou a do “mito” que propõe resolver tudo à bala e que lhe deu o primeiro lugar nas intenções de votos.