Uma das melhores iniciativas da imprensa brasileira foi criar instrumentos para combater as fake news, essa praga que ameaça proliferar, sobretudo agora que a campanha eleitoral começou. São seções de checagem e esclarecimento de informações para não deixar a mentira, isto é, a fake virar news, como aconteceu nos EUA. Aliás, a expressão foi popularizada por Donald Trump, que atribui indiscriminadamente aos jornalistas aquilo que ele mesmo faz. Agora, mais de 300 jornais passaram a se defender, em editoriais, dos ataques do presidente.
O fenômeno é mundial e antigo; de novo só o nome para o velho boato e o veículo, que hoje é um meio de divulgação como nunca houve igual, as redes sociais. Há dias, o cardeal Dom Orani Tempesta lembrou que “as fake news já existiam no tempo de Jesus”. E deu como exemplo: “circulou pelos facebooks da época que Jesus não havia ressuscitado”.
Há casos mais recentes e perversos como o da dona de casa que foi espancada por causa da falsa notícia de que sequestrava crianças para rituais de magia negra. Ou o de que bebês estavam sendo mortos na Baixada Fluminense e seus órgãos retirados para vender.
Num país surrealista como o Brasil, onde o absurdo se apresenta como normalidade e a mentira convive com a meia verdade, a confusão é maior porque nem tudo que parece fake news de fato é. A revelação de que Cabral recebia como propina vinho de mais de mil dólares a garrafa parece mentira e, segundo a polícia, é verdade.
Os debates serão um campo fértil. No da Band, anteontem, com os candidatos ao governo do estado, Romário garantiu: “fico à vontade para falar de corrupção, sou ficha limpa”. Acontece que ele quadruplicou seu patrimônio em quatro anos: de R$ 1 milhão em 2014, quando foi candidato ao Senado, para R$ 5,58 milhões. Para seus eleitores, pelo menos os cativos, ele adquiriu tudo com o suor do rosto, embora não jogue futebol há muito tempo. Já a Justiça estadual tem fortes razões para suspeitar que ele ocultou bens para não pagar dívidas de credores, inclusive da União.
Uma peculiaridade da nossa política é o uso das fakes news relacionadas ao passado — inventando ou exagerando os próprios feitos — e ao futuro — prometendo o que não será feito.
No Brasil, todo cuidado é pouco — ao contrário do que se diz, a mentira não tem pernas curtas.