Presente em uma declaração realizada pela Organização das Nações Unidas, em 1959, a educação é garantida como direito a todas as crianças, independentemente de seu sexo, cor, língua ou religião. Porém, a privação do acesso de meninas a essa garantia é um problema antigo e constante, que está em diversos países ainda hoje, gerando importantes debates sobre a questão ao longo dos últimos anos.
Em muitos casos, as meninas precisam arriscar suas vidas na luta para conseguir fazer algo simples, como ir à escola. Foi o que aconteceu com a paquistanesa Malala Yousafzai, que se tornou a mais jovem ganhadora do Nobel da Paz, em 2014. A menina se tornou ativista depois de sobreviver a um atentado de talibãs, que queriam proibir a instrução feminina no Paquistão.
Em visita pela primeira vez ao Brasil, com apenas 21 anos, completados no dia 12 de julho, Malala conquistou ainda mais admiradores ao anunciar que a organização fundada por ela quer ajudar o Brasil a colocar todas as meninas brasileiras na escola.
Atualmente, 1,5 milhões de meninas brasileiras estão fora das salas de aula. Muitas delas não conseguem estudar porque engravidam cedo ou porque precisam trabalhar para ajudar as famílias. O número de mulheres que não estudam nem trabalham é alto (12,6%, contra 9,1% dos homens). Isso se deve quase sempre à maternidade, já que 56,8% das jovens que tiveram filhos estão fora da escola e do mercado de trabalho.
A Fundação Malala, fundada pela paquistanesa e pelo pai, Ziauddin Yousafzai, em 2013, com o objetivo de promover a educação de meninas no mundo todo, movimenta 10 milhões de dólares (cerca de 40 milhões de reais) ao ano. No Brasil, a Fundação irá investir 700 mil dólares (cerca de 2,7 milhões de reais) em três jovens ativistas pela educação, em diferentes partes do país, por meio do programa chamado “Rede Gumakai”. Os “ativistas gumakais” desenvolverão projetos que aumentem a conscientização para que as meninas não sejam vítimas de violência sexual, assédio ou gravidez na adolescência, com foco em afrodescendentes e indígenas. Pretendem, assim, não só aumentar a permanência de meninas nas escolas, como proporcionar uma educação de boa qualidade.
A Fundação Malala vai contar com o apoio financeiro da Apple para empregar tecnologia em suas ações no Brasil, aumentando a escolarização feminina. Nos planos, está a criação de oportunidades no desenvolvimento de aplicativos. A Academia de Desenvolvedores da empresa já conta com laboratório em dez universidades espalhadas em nove cidades do Brasil, país que mais vem recebendo investimentos da Apple na área de educação. Desde 2013, a companhia já formou mais de três mil estudantes em cursos gratuitos que variam entre um e dois anos, dependendo da faculdade. A meta é atender mais de 100 mil mulheres nos próximos anos, sobretudo no Brasil e em nações como Índia, onde a Fundação também tem atuação.
A aposta no uso de tecnologia aplicada à educação é mais do que acertada para ajudar na capacitação das mulheres e elevar o índice de escolaridade feminina. Segundo afirmou a jovem Malala, com muita propriedade: “É preciso encorajar as meninas a acreditar em si mesmas e a se concentrar em seguir seus sonhos. Tenho certeza de que a tecnologia pode ajudar nesse processo de educação e inclusão.”