Os repórteres Rafael Galdo e Pedro Teixeira mostraram no domingo passado, por meio de texto e fotos, a transformação de uma das mais belas paisagens do mundo, a orla carioca, em moradias provisórias (espera-se) de sem-teto, feitas com pedaços de lona, caixas de papelão e muita sujeira.
Depois de ler a excelente matéria, fui fazer minha costumeira caminhada, que nos domingos e feriados tem à disposição uma pista livre de carros, destinada aos pedestres, às cadeiras de rodas, aos carrinhos de bebês e às bicicletas infantis.
Tudo isso em tese, porque o espaço é invadido pelos com-teto e suas máquinas ameaçadoras em alta velocidade: bicicletas de adultos (inclusive elétricas), skates, patins. E com a ciclovia em geral quase vazia.
O espetáculo dos sem-teto é feio, reprovável, mas não ameaça a integridade física de ninguém, enquanto o dos com-teto põe em risco crianças e idosos. Já vi atropelamento e vários “finos” para assustar. Sei que não adianta denunciar — se fiz isso várias vezes na gestão de Eduardo Paes sem resultado, imagina agora.
Uma vez, chamei a atenção de um PM para uma dessas cenas, e aí travou-se um inútil diálogo:
— Que que o senhor quer que eu faça?
— Que exerça sua autoridade.
Ele fez cara de “não tenho a menor ideia do que seja”, e eu de “deixa pra lá”.
Neste domingo, aproveitei a presença de dois guardas municipais que conversavam despreocupadamente para perguntar se eles não podiam tomar alguma providência para impedir as transgressões. Por exemplo, reservar uma faixa para os velocistas e deixar as outras duas para o lazer tranquilo dos caminhantes, bebês e cadeirantes.
Um deles, ilustrando meu protesto, disse que ali mesmo acabara de passar um ciclista “voando e gritando com alguém pra sair da frente”. Acrescentou que chamavam a atenção dos invasores, aconselhavam, mas não adiantava.
“Quer dizer que vocês não podem fazer nada?”, perguntei, torcendo para vislumbrar uma solução, mas a resposta foi “infelizmente não”.
O mais assustador para quem quer paz é a prepotência e agressividade dos infratores. Eles reagem e revidam xingando. Há uns dois domingos, quando recomendei a um pitboy que quase atingira uma senhora que fosse para a ciclovia, a resposta foi um palavrão e um “vai cuidar da tua vida, ô, velho”. Quase disse “você tem razão”, mas temi por uma violenta reação à ironia.
Conclusão. Se a prefeitura não consegue impor um mínimo de ordem na parte mais visível e valorizada da cidade, que dirá no todo.
E o verão mal começou.