“Antes tarde do que nunca”, ironizou o senador Tasso Jereissati ao comentar o pedido de demissão do deputado Antonio Imbassahy do cargo de ministro da Secretaria de Governo, que na prática já não exercia, pois sua coordenação política não tinha o respeito da maioria da bancada aliada.
Mas o PSDB não consegue sair de seu labirinto, embora aparentemente pacificado. Vai para a disputa presidencial envolto em suas próprias contradições, que se revelam tanto na decisão solitária do senador Aloysio Nunes Ferreira de continuar à frente do ministério das Relações Exteriores, quanto na indefinição quanto à reforma da Previdência.
O PSDB decidiu que Geraldo Alckmin será o candidato à presidência da República em 2018, mas é constrangedor que o partido esteja ainda discutindo o apoio à reforma da Previdência. Como destacou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, uma espécie de grilo falante dos tucanos, são os valores que os tucanos têm que apoiar, independente dos interesses eleitorais.
Alckmin não cansa de dizer que é favorável à reforma, mas estaria temeroso de que, se melhorar a economia, o governo se senta forte o suficiente para lançar um candidato próprio, sem procurar uma aliança com o PSDB.
Mas se uma aliança com a base do governo é tão importante, ou mais, que o programa partidário, que deveria estar acima dessas disputas, por que mesmo o PSDB tem que sair da base aliada? Então voltamos ao comentário do senador Tasso Jereissati: o fato é que os tucanos já deveriam ter deixado o governo Temer há muito tempo, mais especificamente depois da revelação daquela conversa escabrosa com Joesley Batista.
Ali, a legitimidade do governo, que recebeu o apoio do PSDB, foi perdida. Isso não quer dizer que seus projetos programáticos, como as reformas estruturais, tenham perdido a importância. O PSDB, que ao apoiar o governo Temer no primeiro momento anunciou que o fazia, entre outras coisas, para apoiar as reformas anunciadas, poderia ter continuado lutando por elas, fora do governo.
É o que acontecerá agora, mas tão “elegantemente” que possa permitir uma aliança eleitoral mais adiante, o que, mais uma vez, acentuará as contradições internas do PSDB, cada vez mais parecido com todos os partidos saídos dessa geléia geral em que se constitui nosso sistema partidário.
O primeiro desafio do partido nessa nova fase se dará na votação da reforma da Previdência, dentro de dez dias. Se a reforma perder devido à falta de votos dos tucanos, a votação ficará tão marcada quanto aquela em que o tucano Antonio Kandir entrou para a história como o responsável por ter impedido a aprovação da idade mínima, um problema que poderia ter sido resolvido há 20 anos e não o foi por um engano (com ou sem aspas?) de digitação do ex-ministro tucano.
Desta vez, a decisão dos tucanos que não votarem a favor da reforma da Previdência não poderá ser atribuída a “enganos”, mas a interesses eleitorais mesquinhos ou visão equivocada dos compromissos com o país.
Pelo discurso que fará hoje, quando será eleito presidente nacional do partido, o governador de São Paulo lança-se na disputa do espaço anti-Lula. Um dos tópicos de sua fala adiantado ontem é o seguinte, referindo-se a Lula: “As urnas o condenarão pelos 15 milhões de empregos perdidos, pelos milhares de lojas fechadas, sonhos desfeitos e negócios falidos. As urnas o condenarão pela frustração dos projetos de milhões de famílias levadas ao desespero, por ter sucateado o SUS e atentado contra a saúde de todos os brasileiros”.
Tratará o ex-presidente como criminoso, ao afirmar que ele, “audacioso, quer voltar à cena do crime”, isto é, ao Palácio do Planalto. Alckmin joga com a máquina partidária, o tempo de propaganda no rádio e televisão para mais uma vez levar o PSDB a disputar o segundo turno das eleições presidenciais contra o PT, o que acontece há quatro eleições seguidas.
Mas esse é um raciocínio típico da velha política, que não leva em conta a busca do novo pelos eleitores, os movimentos sociais nos novos meios, a revolta dos cidadãos. É uma aposta em que o velho que está morrendo terá forças ainda para impedir que o novo que está nascendo não prevaleça. A força eleitoral de Lula mostra que isso é absurdamente possível. Alckmin quer mostrar que, apesar de tudo, representa uma transição mais confiável.